quinta-feira, 30 de maio de 2013

Lugar nenhum ou deslocando o lugar comum no tempo-espaço

Quando o anoitecer do outono nos envolve em seu azulado frescor, cada vez mais cedo, espaços culturais privilegiados do Rio de Janeiro, como o Instituto Moreira Salles, vão ganhando em mágica formosura...

Momento perfeito para adentrar-lhe a arquitetura especial, abrindo-lhe a porta com a maçaneta no formato da mão do antigo proprietário...



,. e visitar a exposição Lugar nenhum, com 56 obras, entre pinturas e fotografias, produzidas por oito artistas contemporâneos brasileiros (a saber,  Ana Prata, Celina Yamauchi, Lina Kim, Luiza Baldan, Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Rubens Mano e Sofia Borges).




 Para compor a mostra, os curadores partiram da constatação de que um número significativo de fotógrafos e pintores contemporâneos brasileiros se interessam por assuntos comuns: lugares quase sempre vazios e anônimos, objetos e situações triviais. 

 Por isso, o título da exposição está diretamente ligado ao conceito de terrain vague (terreno vago) – cunhado pelo arquiteto catalão Ignasi de Solá-Morales –, que são espaços aparentemente esquecidos, vazios, que no presente evidenciam um resquício do passado.


 Lugar nenhum reúne artistas com percursos e referências distintas que, postos lado a lado, sugerem um sentido comum. São pintores e fotógrafos, quem, nesta postagem, não correlacionamos diretamente a suas obras... afinal, o anonimato também conviria ao espírito da mostra...  



A base teórica-prática para esta associação entre pintores e fotógrafos é que a história da fotografia é indissociável da história da pintura. Desde os primeiros registros fotográficos, na primeira metade do século XIX, observa-se uma série de influências mútuas entre as duas formas de representação.



Ao longo do século XX, as trocas se tornam cada vez mais complexas, não sendo possível, muitas vezes, determinar uma origem única para soluções formais engendradas por artistas que trabalham com essas técnicas.






As telas e  paineis fotográficos 
 nos impelem a rupturas nas percepções usuais da realidade: fragmentos do cotidiano...


O visitante transgride (pois tirar fotos é desaconselhado )  ao participar da mostra – ou assim o faz sua  sombra na imagem.




Saindo do Lugar Nenhum, somos envolvidos pela beleza tornada fantasmagórica pelos focos de iluminação dos jardins da Casa...

O entorno da piscina 
cintila em reflexos prateados...  




...e o topo de árvores exóticas é pincelado em fulgor dourado









E a noite, afinal, transborda as margens crepusculares no espaço-tempo e se faz verde-escuro como o riacho cantarolando por entre as folhas da vegetação densa...  



Lugar nenhum 
Exposição: de 2 de março a 2 de junho de 2013 
Entrada franca - Classificação livre 
De terça a sexta, às 17h, visita guiada pelas exposições. 
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro 
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea 
De terça a domingo, das 11h às 20h 

Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500

sexta-feira, 24 de maio de 2013

As chuvas de maio levando o verão

O verão está custando a ir embora. Aqui e ali uma amostra de temporal, uma oportunidade de desenterrar um capote divertido do armário. Mas nada ainda que exile o calor recalcitrante, embora ele pareça menos convicto de seu poder a cada retomada de território...

É preferível se entregar à doce fúria da natureza, curtir o frescor, rezar para a temperatura se mantenha amena, no ritmo dos eternos versos de Tom e Ellis:  

(clique na gravura para colaborar com a chuva caindo) 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Fragmentos poéticos do cotidiano: Nosso Outono é Primavera


Nosso outono é primavera
Nas estações do ano e da vida
A esperança de florescer retorna
Ao topo da árvore crescida


Mais de perto, nos deslumbra
Qual eclosão de novos amores 
Tão imprevista explosão de cores! 


sábado, 11 de maio de 2013

Miniconto carioca: Um ninho provisório



 Iª parte

Quão belo é o entorno da Lagoa: de um lado, erigem-se fileiras
...de árvores altaneiras.
... do outro, o manguezal cochila, imerso ...
... em seu confinado reflexo.

O que é isto? Numa galhada de raízes suspensas, um fruto estranho; 


Ou será um improvisado ninho humano?


IIª parte

Esfriam os dias, o azul vira grafite.


E a pousada aérea não mais existe.

 Por trás de prédios indiferentes e altivos, 
um longínquo Cristo observa, pensativo. 

domingo, 5 de maio de 2013

Rio Off Broadway



Chega à nossa notícia que hoje termina a temporada no Rio de uma ‘pequena sonata cênica’ que, aqui e em New York (2010), foi muito bem recebido por crítica e público: Freud, a última sessão de Mark St. Germain. 
Depois de transitar , sempre brevemente, por diversas salas,  é no teatro da Maison de France que esta nossa "última sessão" se dará hoje às 19 hs. Tomara que ainda ressurja por nossas plagas.

Freud, a última sessão é o tipo de peça intimista e plena de sutilezas de um “teatro de Câmara” à margem – no melhor dos sentidos possível – da maioria dos espetáculos comerciais, em que emoção (frequentemente histérica) na interpretação é confundida com espalhafato. 
  O espetáculo revive o encontro entre Sigmund Freud, o criador da psicanálise e ateu ferrenho, interpretado pelo ator Helio Ribeiro e CS Lewis, professor da Oxford, escritor e cristão fervoroso, pelo ator Leonardo Netto. Temas como religião, psicanálise, sexo e sociedade humana são abordados.

Cenário da versão novayorkina - no Little Theater 
A palavra da Decana:
barbara heliodora 
o globo | 20:39h | 05.dez.2012 

O bom embate intelectual de dois
(Trata-se de ) um texto sobre o encontro, em 1939, no dia em que a Inglaterra declarou guerra à Alemanha nazista, de Sigmund Freud e C.S.Lewis, que pode ter acontecido (ou não) e no qual é debatida a existência (ou não) de Deus. Não é só disso que eles falam. Temas recorrentes da psicanálise, assim como a assustadora realidade da guerra, estão presentes. Mas o cerne da ação se dá no ponto em que essas duas grandes potências intelectuais são diametralmente opostas: a fé e a influência da religião sobre a vida do homem. O maior mérito do texto de Mark St. Germain (bem traduzido por L.G. Bayão) é o de não fazer nenhum de seus dois protagonistas enveredar por um nível de profundidade impossível no diálogo de pouco mais de uma hora entre dois homens de imensa integridade intelectual, em um único encontro; isso não quer dizer que os dois não levem a sério o que dizem, e o texto fica enriquecido tanto pelo respeito mútuo quanto pelo humor, que é muito bem dosado.
Cenário da versão carioca 
A encenação é simples. O cenário de José Dias, muito agradável, evoca algo da casa, em Londres, onde o refugiado Freud tem seu escritório, inclusive o histórico divã para os analisandos, com gosto e com espaço para os atores, e são corretos os figurinos de Kiara Bianca, tudo muito bem iluminado por Aurélio de Simoni. Marcelo Alonso Neves é responsável pela música, e Sueli Guerra, pelo movimento. A direção de Ticiana Studart acompanha bem a intenção do texto, respeitando bem os limites desse suposto (ou não) encontro entre dois homens de notável biografia.

Atores defendem bem papéis

O elenco é composto por Leonardo Netto e Helio Ribeiro, que têm de realizar seus trabalhos a partir de premissas diversas: a figura do criador da psicanálise é mais do que conhecida, enquanto a do notável professor/escritor é totalmente desconhecida; nisso está, sem dúvida, a composição segura e cheia de detalhes de Freud, em contraste com a maior timidez e indefinição de Lewis. Com isso Leonardo Netto tem um trabalho bom, mas um pouco menos satisfatório do que a composição de Helio Ribeito. Mas de modo geral ambos defendem bem seus personagens, e o diálogo que estabelecem em “Freud — A última sessão” é um espetáculo interessante como conteúdo, que faz pensar e, ao mesmo tempo, diverte. 
Bottom oferecido com brinde à saída do espetáculo em NY 
 Como não vai dar tempo para muitos de nós o (re)vermos , aí vão ‘prêmios de consolação’ para os adeptos do tema:

Sigmund Freud - A Invenção da Psicanálise (1997)

- documentário premiado apresentado pelo GNT -

Deus em Questão - Sigmund Freud x C.S.Lewis Documentário [3-4]