A Copa do Mundo no Brasil
gestou-se em meio a muitas ambivalências. Uma grande parte da opinião pública,
revoltada com o desperdício do dinheiro em sua organização a par da correspondente
falta de alocação de recursos financeiros equivalentes em outras áreas vitais
da administração pública, quais saúde e educação, manteve-se fria e indiferente
até o início da competição.
A partir daí, vivificando o
antigo adágio político de que o povo sempre pode ser apaziguado, em suas
aspirações políticas mais exigentes, pelo “Pão e Circo”, houve um certo ‘viracasaquismo’ desta mesma
opinião pública , ilustrado por posturas públicas como a de uma colunista da
Folha que, arrependida de não ter-se unido à euforia generalizada, ao final de seu texto diz 'tanto faz quem
ganhe , só quero me divertir'.
É verdade que se pode separar o 'protesto', ou a postura política crítica,
da 'diversão', expressão da necessidade lúdica do ser humano, seja esta
manifesta de forma 'alienada' (da realidade) ou não.
A Copa do Mundo no Brasil
começou sendo reconhecida como uma das mais ‘bonitas’ dos últimos anos (muitos
gols, viradas, vitórias inesperadas) .
O grande afluxo de torcedores de outras
terras, suas coloridas fantasias e alegres modos em nossa hospitaleira terra
ajudou a construir um mundo de Fantasia.
E, como muitas vezes ocorre, o espírito humano sucumbiu, em termos da força da Estética (ou Beleza) em relação ao Intelecto (ou capacidades críticas) !
E, como muitas vezes ocorre, o espírito humano sucumbiu, em termos da força da Estética (ou Beleza) em relação ao Intelecto (ou capacidades críticas) !
Nestes primeiros momentos ‘gloriosos’
até mesmo uma reflexão ética tornou-se possível. Se o
que vale é a Beleza e não a tendenciosidade política, quem joga melhor deve
ganhar e esta sensação diminui em muito a sensação de ‘alienação' quanto à
realidade mais ampla que se utilizaria da 'patriotada vazia' temida pela
reflexão crítica . É bonito e bom se torcer pelo resultado mais justo, já que
todos os jogadores deveriam ser a princípio iguais ou irmãos segundo o melhor
do espírito esportivo atemporal e universal .
Qual o gol mais bonito na primeira fase da Copa? Vários !!!! |
Mas a Copa progride, os jogos se
tornam mais difíceis, o rendimento do time brasileiro, o anfitrião da Copa,
piora, em sua própria casa. Torna-se um sofrimento assisti-lo, estrebuchando,
tentar dar conta não só da tarefa esportiva que lhe é a obrigação única, mas de
toda a expectativa nela projetada. Sim, pois a par do impulso esportivo mais
universal acima esboçado, é impossível não se pedir da equipe da casa um
sucesso que justifique as muitas outras aspirações de seu público que foram
deslocadas para tal Vitória.
A ‘Fome da
Bola’, que os nossos jogadores não têm, em suas tímidas e esquivas manobras no
campo, expressa uma culpa negada, no fundo de seus corações, acerca dos meninos
pobres que foram e a cujas mais fundamentais necessidades o futebol não pode
satisfazer. É um pouco absurdo que assim seja, e profundamente injusto para com
o time e para com o povo, mas tal é a consequência das contradições ‘engolidas
à força’ sob o impacto superficial da Beleza.