segunda-feira, 30 de junho de 2014

Copa do Mundo no Brasil: ambivalências, a Beleza e o fantasma da Derrota.

A Copa do Mundo no Brasil gestou-se em meio a muitas ambivalências. Uma grande parte da opinião pública, revoltada com o desperdício do dinheiro em sua organização a par da correspondente falta de alocação de recursos financeiros equivalentes em outras áreas vitais da administração pública, quais saúde e educação, manteve-se fria e indiferente até o início da competição.



A partir daí, vivificando o antigo adágio político de que o povo sempre pode ser apaziguado, em suas aspirações políticas mais exigentes, pelo “Pão e Circo”,  houve um certo ‘viracasaquismo’ desta mesma opinião pública , ilustrado por posturas públicas como a de uma colunista da Folha que, arrependida de não ter-se unido à euforia generalizada,  ao final de seu texto diz 'tanto faz quem ganhe , só quero me divertir'.

É verdade que se pode separar  o 'protesto', ou a postura política crítica, da 'diversão', expressão da necessidade lúdica do ser humano, seja esta manifesta de forma 'alienada' (da realidade) ou não.

 A Copa do Mundo no Brasil começou sendo reconhecida como uma das mais ‘bonitas’ dos últimos anos (muitos gols, viradas, vitórias inesperadas) . 
         


O grande afluxo de torcedores de outras terras, suas coloridas fantasias e alegres modos em nossa hospitaleira terra ajudou a construir um mundo de Fantasia. 

E, como muitas vezes ocorre, o espírito humano sucumbiu, em termos da força da Estética (ou Beleza) em relação ao Intelecto (ou capacidades críticas) !
Nestes primeiros momentos ‘gloriosos’ até mesmo uma reflexão ética tornou-se possível.   Se o que vale é a Beleza e não a tendenciosidade política, quem joga melhor deve ganhar e esta sensação diminui em muito a sensação de ‘alienação' quanto à realidade mais ampla que se utilizaria da 'patriotada vazia' temida pela reflexão crítica . É bonito e bom se torcer pelo resultado mais justo, já que todos os jogadores deveriam ser a princípio iguais ou irmãos segundo o melhor do espírito esportivo atemporal e universal .

Qual o gol mais bonito na primeira fase da Copa? Vários !!!! 
Mas a Copa progride, os jogos se tornam mais difíceis, o rendimento do time brasileiro, o anfitrião da Copa, piora, em sua própria casa. Torna-se um sofrimento assisti-lo, estrebuchando, tentar dar conta não só da tarefa esportiva que lhe é a obrigação única, mas de toda a expectativa nela projetada. Sim, pois a par do impulso esportivo mais universal acima esboçado, é impossível não se pedir da equipe da casa um sucesso que justifique as muitas outras aspirações de seu público que foram deslocadas para tal Vitória.  

A ‘Fome da Bola’, que os nossos jogadores não têm, em suas tímidas e esquivas manobras no campo, expressa uma culpa negada, no fundo de seus corações, acerca dos meninos pobres que foram e a cujas mais fundamentais necessidades o futebol não pode satisfazer. É um pouco absurdo que assim seja, e profundamente injusto para com o time e para com o povo, mas tal é a consequência das contradições ‘engolidas à força’ sob o impacto superficial da Beleza.





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