Bem na vibe, o último filme de Woody Allen, bem feitinho e levinho...
Levinho demais para nosso gosto...
Ou se deve chamá-lo de irrelevante?
Trata a trama de um ilusionista, adepto de desmascarar falsos médiuns que, devidamente induzido ao engano por um amigo competitivo, deixa-se empulhar por uma jovem farsante, por quem, malgrado tudo (ou mesmo por isto?), acaba por se apaixonar. Bem sessão da tarde!
Em nossa memória, ainda mais no contexto de fuga vespertina do cotidiano duro, esperamos o Allen de tempos mais consistentes, da Rosa Púrpura do Cairo, onde o entrechoque de magia e realidade, termina com a constatação bela e sofrida da incompatibilidade dos dois mundos. Só assim, no seio de tal inevitável paradoxo, a magia mantem vivo o seu poder de fecundar a realidade.
Já agora - e há vários filmes Woody acentua uma escolha nesta direção - o negócio é diante da realidade desencantada apelar desvairadamente para impregná-la de ilusão ! Não importa que à custa da trapaça e da mentira, tudo é válido quando se trata de encobrir de purpurina o traçado singelo dos dias críticos. Ou seja...
Ou será que só porque é uma fraude pode ser simpática?
Não se trata, em termos da análise densa a que aqui procedemos, de desvalorizar a capacidade de criar fantasia para suavizar tais contornos austeros da existência. Isto o ilusionista faz no registro de diversão que lhe é característico...
Se consciente deste registro, há uma face verdadeira que se despe de atavios ao fim dos momentos de representação.
E, para alguns de nós, o rosto despido de maquiagem, tem beleza similar àquele que, no palco, se faz projeções para imaginações descontentes de sua condição de trafegar, por conta própria, entre os muitos mundos de que é feita a apreensão da realidade de cada um.
Assim, Woody faz a defesa da mentalidade do entretenimento, não mais como solução provisória e fadada ao insucesso, como n"A Rosa Púrpura" , mas como resposta a ser implantada, nas escolhas da vida , de uma política íntima de alienação.
Temas potencialmente mais sérios como as raízes tortas da afinidade amorosa, a leviandade impressa a certas traições da amizade, a natureza do encanto mágico são tornados banalidades 'simpáticas' a favor de um mergulho desesperançado no "me engana que eu gosto". Ao mesmo tempo se trivializa qualquer pretensão de contato com o desconhecido.
Estou sendo sem dúvida exigente demais com uma "comédia 'levinha' , tipo matinê de televisão, sem pretensões. Aí jaz o nó do problema!
Não se vai ver Woody Allen para uma "comédia romântica-sessão da tarde na rede Globo". Ao menos, para alguns de nós, ir conversar com um cineasta de peso em uma 'sala de espetáculos' (enfrentando trânsito e horários apertados) é uma experiência que provocaria um diálogo íntimo que incentivasse o voltar ao batente.
E ao sair da 'Magia ao Luar" ( melhor se diria 'à luz dos Refletores' ), não obstante as apreciações óbvias ao bem feitinho técnico da película, o que se sente é Tristeza!
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