Não sou dada a invejas. Aceito-me e aos outros mais ou menos como somos, sem ímpetos exagerados de trocas de papéis ou atributos.
Mas neste momento da epidemia da mesmice infernal, prescrições incessantes de cuidados passivamente aceitos por todos (como se a o modelo de risco epidemiológico não tivesse imensas restrições !) e covardia existencial finalmente justificada em sua formatação de louvável prudência , minha revolta explode.
Na porta do Banco, na margem da sociedade, o casal de mendigos dorme , abraçado, em pleno e cálido dia ! Um fiel cachorro cochila a seus pés ! Seus pertences ... contidos todos numa saca de supermercado amarfanhada, ah que fantasia de liberdade me bafeja como um presente inesperado ...
Cochilam e murmuram e se espreguiçam , no asfalto imundo , como se em coxim de nuvens prateadas estivessem.
Irresponsáveis, magníficos, divinos como deuses caídos da Transcendência do Ser à miséria encarnada, que , todavia, seguros de seu estatuto perfeito, ignoram totalmente .
E ela me vem, a Inveja ! Totalizante, paralizante.
E quase me alegro de a sentir. Minha alma não foi ainda completamente subjugada aos pretextos sensatos que mal disfarçam o verdadeiro pânico por trás disto tudo : o do morrer prematuro por não ter sido servil o suficiente à sua função de mero elemento estatístico em uma arbitrária tabela equalizante à qual suas possibilidades de escolha foram reduzidas .
Procuro uma imagem que traduza o que sinto. É preciso que seja Bela, muito Bela. Que faça jus à
incongruente originalidade dos sentimentos que me suscita o casal rebelde.
Como um grito de cor transformando as listas da prisão em uma coreografia de contrastes, fruição estética que por um instante engambela o tropel da Vida abafado !
segunda-feira, 23 de março de 2020
domingo, 15 de março de 2020
A extensão do virus
Tenho passado os últimos dias um pouco combalida, quiçá assustada, com as notícias alarmantes sobre o ConVirus de múltiplas fontes, algumas muito disparatadas ...
E quando vou fazer uma de minhas postagens habituais, de repente o funcionamento de minhas contas está alterado... Não consigo sequer abrir meu arquivo de fotos !
E quando vou fazer uma de minhas postagens habituais, de repente o funcionamento de minhas contas está alterado... Não consigo sequer abrir meu arquivo de fotos !
quinta-feira, 5 de março de 2020
Florzinha efêmera em planta longeva
Em uma destes dias de um verão extraordinariamente chuvoso e fresco, como o que estamos tendo , este ano, no Rio, me aproximei de uma muito antiga plantinha, no peitoril de minha janela de quarto de dormir .
Para minha surpresa - há mais de quarenta ano tenho esta plantinha que, embora cada vez mais minguada , resiste à passagem dos anos - nela vicejava uma minúscula, nunca antes entrevista, florzinha !
Eram sete horas da manhã. Tentei tirar um close mais de perto da florzinha; ante a claridade frágil, este saiu um pouco borrado . "Volto quando tiver mais luz" , prometi.
Mas, três horas depois ela já secara ; e um pouco só mais tarde, desaparecera na terra a seus pés...
Para minha surpresa - há mais de quarenta ano tenho esta plantinha que, embora cada vez mais minguada , resiste à passagem dos anos - nela vicejava uma minúscula, nunca antes entrevista, florzinha !
Eram sete horas da manhã. Tentei tirar um close mais de perto da florzinha; ante a claridade frágil, este saiu um pouco borrado . "Volto quando tiver mais luz" , prometi.
Mas, três horas depois ela já secara ; e um pouco só mais tarde, desaparecera na terra a seus pés...
A Flor existiu, entretanto, quase que em segredo - como faz usualmente - mas, desta vez,
feito o flagrante da sua expressão poética, está registrada sua beleza fugidia para a eternidade !!!
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