domingo, 30 de setembro de 2012

Acima e em baixo no Largo (do Machado)


Esta vestimenta cinzenta, a esparsa bruma que substitui, nos instantes que compõem o amanhecer, o grito ousado do rubro nas orlas de nossos horizontes, nos é um pouco estranha. O frio convém aos cariocas da montanha; mas este ‘fog’ fora de hora, úmido e pesado, não é senão um ‘cálido disfarçado’. Ou seja, o ciclo solar do inverno está encerrado, o Astro-nosso-Rei tropical já trafega em zonas celestiais mais próximas da Maravilhosa e, sob a leve impressão de frescor, impõe-se uma familiar sensação de ‘abafado’...

Do alto de um edifício, o Largo envolto em arvoredo, com a Igreja ao fundo e as montanhas quais molduras em tons pastel, parece mais belo e harmonioso do que visto do chão...

  
Mas é abaixo, no rés da calçada, que a existência brinca de saltimbanco... prestidigitadores, cançonistas, estátuas vivas têm escolhido o largo do Machado como um seu canto querido, no Rio, em especial nas noites e fins de semana...


A bonequinha de pano, pretinha de tranças retorcidas, se apresenta fazendo uma mesura com o vestido de chita...

Depois, canta e dança 'a plenos pulmões' , contando, reclamando, pedindo, agradecendo, de acordo com as letras das músicas do som!  





Nosso pequeno Montmartre também resgata a tradição parisiense de amor aos bichinhos mendigos, adoráveis homeless, que aos sábados são expostos em busca de um carinho ou de um Lar. As fotos nos falam de seu comovente apelo e o site abaixo das muitas formas de atendê-lo.  Por exemplo, ficando com um animalzinho por uns tempos apenas, enquanto ele se recupera de um machucado... Como tudo, na nossa cultura provisória, a ternura pode ser efêmera, aquecendo o coração só enquanto não dá mais para suportar o frio e a solidão. Mas melhor do que nada, não é?

Os lencinhos coloridos, nos pescoços dos cães, indicam que estão disponíveis para adoção. Dá pra cochilar enquanto espera e até dorminhocar um pouquinho... 

Às vezes uma inteira família canina aguarda unida !!

Gatos com ração, água e seus indispensáveis brinquedinhos 
'Todos os amiguinhos adotados,
só eu fiquei sozinho !'














Sorte de bichinho novo
contar com o colinho
de gente nova!



Um fim de semana com fartura de afeto, amigas e amigos! 











domingo, 23 de setembro de 2012

Alvorecer da primavera


Não tivemos frio este ano na Maravilhosa. Estamos deslizando de um não-inverno para um pré-verão; na semana passada os termômetros já ultrapassaram os 40º.  Metabolismos menos afeitos à canícula já se ressentem e o horário dos exercícios ao ar livre – de que todos os cariocas são adeptos (às vezes apenas teoricamente) – antecipa-se nos relógios biológicos. É necessário acordar cada vez mais cedo e ganhar os verdes espaços antes que o disco amarelo do sol ascenda raivoso, arranhando as rochas que o impedem de nos ofuscar a vista.

O escuro, no final da noite, parece sujo, quando saímos. A névoa rala sufocou a transparência do céu. Efetivamente, hoje não é um bom dia para belas fotos. O momento de transição, aquele hiato em que as lâmpadas, nos postes, colapsam e o barulho dos carros ameaça aumentar, é quase imperceptível. 
A Lagoa é tão espetacularmente linda que, mesmo assim, nos permite uns flashes desta gradação sutil de quietudes, neste limbo de volumes arredondados e sombras maciças.



 Logo antes do amanhecer, o colar de pingentes amarelos na água é enfeite para as nossas Oréadas (ninfas da montanhas e colinas)   *

Logo após, os dedos rosados da Aurora diluem os tons cinzentos no firmamento.

Então, caminhamos ou pedalamos ou corremos. E, na volta, nos detemos à beira da Lagoa: uma floração também rosada, ecoando a marca registrada da Aurora, saúda a nova estação, enroscada no arame da contenção da amurada.


  
Adiante, a água reflete, confundindo-se com o céu, os volteios das nuvens em torno de manchas mais claras ou mais foscas.  


Espirais oscilam  e telas impressionistas sucedem-se ante nossos olhos, em fluxo fugidio de parecenças e divergências, supra-sumo da provisoriedade espontânea que transcende qualquer intenção deliberadamente artística.







Pétalas extraviadas e outros resquícios da chuva forte de ontem  se transformam em joias flutuantes, se assim o fantasiarmos...
Para os cariocas da montanha, a percepção da Primavera – assim como da Esperança – desabrocha do quase-nada, em nossos corações...  

Referêmcias:
* Junito Brandão - Dicionário Mítico-Etimológico - vol.II - Petrópolis, Vozes, 1997, p. 173

domingo, 16 de setembro de 2012

Música na Mata


A turma botaniquense é uma de nossas mais assíduas colaboradoras. Dela nos vem uma preciosa informação sobre a programação de setembro do Espaço Tom Jobim, que, para quem não sabe, fica nos domínios verdes do nosso Jardim da Botânica, anexo ao Parque (mas fora dele), perto do estacionamento.
Logo do espaço Tom Jobim



Fila no estacionamento no sábado, 14/09, às 9;30 am 
















(aliás, para achar o estacionamento, seguir pela rua Jardim Botânico –  na mão direita do trânsito – , passar o portão principal do Parque e ficar atento à entrada para o dito cujo. A área disponível não é grande, donde chegar cedo!)






Isto posto, em setembro acontece a Semana Internacional de Música de Câmara, dirigida pela pianista Simone Leitão, no Teatro Tom Jobim – exceto na apresentação do Quarteto Osesp que, a princípio, será no galpão – de terça-feira, dia 18/09 ao dia 25/09 (outra terça-feira).
Quarteto Villa-Lobos
Entre os convidados estão a violoncelista russa Nina Kotova, o violinista norueguês Henning Kraggerud, o violinista americano Daniel Andai, o Quarteto OSESP, o Quinteto Villa- Lobos, os pianistas Jean Louis Steuerman, Giulio Draghi e Tamara Ujakova, os violinistas Daniel Guedes e Gabriel Marine, e outros, dentre os quais a própria Simone Leitão.  Entre os jovens músicos, estão os pianistas Juliana Steinbach, Aleyson Scope e Gustavo Cruz.
Horário: seg, ter, qua e qui às 20h30/ sábados e domingos às 16h30. Ingressos a R$ 40,00 (inteira) /R$ 20,00 (meia), à venda na bilheteria do teatro das 14h as 18h

Cyro Baptista 
Para quem curte mistura de estilos, a dica é a apresentação do percussionista e compositor Cyro Baptista, instrumentista radicado nos USA que tocou com Yo-Yo Ma,Paul Simon e Sting, além de Caetano Veloso, Ivan Lins e muitos outros. No show Banquet of the Spirits, sua proposta é a de uma mistura de jazz e forró, na quarta-feira, 18 de setembro, às 20h.

 Ingressos a R$ 30,00 (inteira) /R$ 15,00 (meia), à venda na Ingresso.com e bilheteria do teatro das 14h as 18h.

Outro ponto alto do roteiro de artes cênicas é "Valsa nº 6", texto de Nelson Rodrigues defendido por Luisa Thiré, com estreia dia 29. Também em cartaz, as peças "Artaud, a realidade é doida varrida" (até 23/9) e "Sóbrios".

Mais informações sobre a programação pelo telefone: 2274-7012 e na página http://www.riomusicweek.com.br/programacao

Na foto, os descendentes de Tom,  Paulo Jobim, presidente do Espaço Tom Jobim, e Daniel Jobim, que se tornou estudioso de botânica por influência do avô, posam entre as raízes da sumaúma.  

Para quem não conhece ainda – ou já conheceu na infância que não volta mais ou como item opcional no cardápio de ‘cartões postais’ oferecidos a um amigo ‘de fora’ – o nosso Jardim da Botânica, vale a pena uma incursão ao simpático site (com informações básicas pertinentes e belas fotos) abaixo, para animá-los a corrigir este equívoco existencial: 


Cultivos entrelaçados, o da Natureza e o da civilização: apenas o máximo, não?

Bom domingo, azul e cristalino, para os residentes e os sempre bem recebidos visitantes da Maravilhosa!

P. S. Como a questão do estacionamento em torno do Parque do JB é séria, aí vai um mapa improvisado das diversas opções a respeito, utilizando as quatro entradas mais próximas ao espaço Tom Jobim :



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

No topo do monolito


Correria da semana, na caverna urbana de Saramago. Curvas hostis nas entranhas de concreto, tetos de estalactite e paredes de grafite... escadas enviesadas, passarelas entrelaçadas e cascatas de vitrines... compras na afobação, pela ocasião, de liquidação... o lanche atropelado entre passos apressados...

Alguns degraus acima,
E que vista se descortina!


Isto é o Shopping no Rio de Janeiro!!! 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Datas queridas: Feriadão da Independência



Uma cara amiga – moradora da Urca e colaboradora deste blog – me enviou um volátil 'volante' com um convite para o baile abaixo, que as agruras da vida trabalhadora me dificultaram divulgar a tempo útil para o eventual comparecimento das comadres e dos compadres cariocas. Mas fica o tributo à ideia das “datas queridas’, ao estimado legado das plagas lusitanas (no sangue de tantos de nós) e à curiosa junção de elementos tão diversos como a Orquestra Imperial + Real Combo Lisboense + Circo Voador na ‘lapa da Maravilhosa’... 

Alguém viu? Alguém sabia? Mandem-nos mais informações a respeito de nosso diálogo com os primos-irmãos d’Além Mar, no compasso dos corações que dançam o vira e batucam um sambinha numa consonância esdrúxula e reconfortante!

Naturalmente, caindo o Sete de Setembro deste ano numa sexta-feira, viajar para fora do Rio é Programa Oficialmente Indígena. Aliás, a melhor sigla para isto, dada a nossa cada vez maior vocação turística, seria ‘Oip’! =  Officially Indigenous Programme. A versão para o inglês está meio capenga, donde mais engraçada e ademais – como costumamos dizer com condescendência tupiniquim - ‘já fazemos muito em falar a língua deles!” 

Ponte e Avenida Brasil por volta das sete da manhã de hoje
  Trancafiada na Maravilhosa e inspirada pela solenidade da comemoração cívica, fui dar uma pesquisada em como ela está estaria sendo vivida no Rio – a atemporal Capital do Brasil –  e na atual capital federal . Obviamente, fui ‘googlar’ o tema. Surprise !  A caixa de entrada para a pesquisa Google está ornamentada de forma a homenagear a data! Como acordei cedo, fui-me informar dos detalhes em:  
Vejo, então, que a comemoração em Brasília começaria por volta de 9 hs. da manhã,  durando uma hora e trinta minutos, em função – explícita pela coordenadora de relações públicas da Pátria Amada – de manter a atenção das pessoas; um público esperado entre 30 e 35 mil pessoas.

E na Maravilhosa? Imbuída de compromisso jornalístico-cronista alternei-me entre dois telejornais matutinos, na Globo e na Record, descobrindo – Santa Alienação minha até então! – que uma tradicional parada aconteceria na Presidente Vargas. Onde tive melhores informações a respeito foi em:   

Os próprios redatores das emissoras não fazem fé no interesse carioquês de assistir à parada – substantivo de correspondência precisa com o adjetivo a ele similar. Sugerem duas opções: 
A ida à Feira Nordestina, em São Cristovão, que, aliás, faz aniversário hoje. Estará aberta no feriado, informa o Jornal.

 Ou apreciar a mostra em curso OiR (Outras Ideias para o Rio). Nela, seis artistas exibem, em pontos estratégicos da Maravilhosa, criações monumentais, de modo a sintonizar a inspiração da expressão artística com a dimensão pública magnificente da Maravilhosa. O americano Robert Morris, veterano de 78 anos, idealizou um labirinto triangular de vidro, aberto à visitação, na Cinelândia. Haverá transporte gratuito, nos feriados e fins de semana, para visitar as instalações. Em que pesem a boa intenção da proposta e a pertinência da brincadeira semântica do nome OiR ( com as letrinhas componentes do nome da Maravilhosa), indagamo-nos se tentar usufruir tal benesse, dada a provável insuficiência da oferta (de transporte) em relação à procura do público, não será um tremendo ‘Oip’! =  Officially Indigenous Programme.  !!! Ops , our mistake. No site da mostra – www.oir.art.br , na guia Tour – há detalhadas instruções a respeito.
Simulação da obra “Olhar nos meus Olhos’ (Awilda) por Jaume Plensa, na Enseada de Botafogo, mereceu (Vejinha , 5 de setembro)  
Muito legal a iniciativa de uma das instalações, a de Henrique Oliveira, estar  no recém-inaugurado parque de Madureira. Atenção: embora a maioria das obras fique em exposição até 2 de novembro, a de Ryoiji Ikeda – um espetáculo audiovisual na Praia do Diabo – só será apresentada nos dias 7, 8 e 9 de setembro, de 19 às 21 hs.

 O coordenador da mostra, Marcello Dantas  na Cinelândia, explica uma das interpretações possíveis da obra de Morris: “um labirinto para se perder e se achar
 Enquanto me distraio escrevendo neste blog, nesta Data Querida (feriado, ÔBA! ÔBA!), acabo por me entreter com dois videozinhos catitas, com uma visão alternativa-popular acerca da independência da (Pátria) Amada. Educativo and entertaining:     



Será que o dever jornalístico-cronista me obrigaria a assistir, parada, à Parada? Os telejornais matutinos prometiam temperatura prevista para entre 20º e 33º, água do mar razoavelmente morninha para um ‘banho de gato’ (21º). E, conforme a sábia afirmação de um certo Carlão, apelido de um dos âncoras televisivos: “Em nenhum lugar o azul combina com o verde como no Rio de Janeiro”...





Neste ínterim, as horas passaram e a parada também... Posso delegar a obrigação moral de documentá-la a quem o tenha feito de jeito competente, informal, improvisado, presencial, alegre e crítico. Neste sentido, escolhi o arquivo abaixo:


A neblina, que de manhã cedo atrapalhava a rota de evasão dos adeptos do ‘Oip’! ( Officially Indigenous Programmes), espreguiçou-se, sem vontade também de levantar no feriado molenga, e o tempo está meio que nublado, mas nada que impeça o bordão: “E o Rio de Janeiro continua lindo...

...aquele abraço!”