Existe um lugar, o sítio Burle Marx, que é o jardim secreto
dos cariocas, a tradução patropi do
English secret garden de gratas memórias literárias e cinematográficas.
Para aqueles que gostam de natureza e de arte e simpatizam com a ideia de
escapar do miolo fervilhante do Rio para suas cercanias rurais, é o programa
perfeito!
Vista distante da Barra de Guaratiba do ponto mais alto do Sítio BM, na varanda de seu ateliê |
Caluda, porém! Cariocas da Montanha têm em comum com os
cariocas da Praia uma preguiça infernal de fazer reservas. Vai que chove! Vai
que rebenta um cano no chuveiro! E se, de repente, aparecer algo
imperdível? Pior ainda, somos mais
encucados do que a turma praiana quanto a manter compromissos – vai que eu
peguei a última vaga, aquela da velhinha cujo desejo derradeiro era estar lá e
então?
Ao lado do portão recuado, o logotipo do sítio |
Após as peripécias de achar o local – bem escondidinho comme il faut (e de portão - recuado - fechado até a hora exata agendada) – é comum dar-se com os
proverbiais burros n’água ao descobrir que para visitá-lo a reserva antecipada
é obrigatória. Pode ser por telefone, em horário comercial (2410-1412) , o
número de pessoas por grupo visitante é limitado (35 alminhas) e a entrada é baratinha: R$
10,00.
A visita é guiada por uma bióloga e somos discretamente
acompanhados, o tempo todo, por corteses
guardas uniformizados, que não deixam ninguém ficar para trás. O sítio é muito
bem preservado e amplamente integrado a recortes culturais que, como em uma
faixa de terreno fértil (que vai, tradicionalmente, do brejo ao topo da
montanha), abrangem desde a comunidade local às esferas globais.
Perambulamos inicialmente pelos ‘sombrais’, grandes estufas cobertas por um material que reproduz diferentes densidades de sombra e cujas
espécies raras (como a 'flor peluda' abaixo) são assim preservadas em simulações de seus habitats naturais, podendo ser objeto de
pesquisas internacionais.
Veja-se esta palmeirinha 'peluda' ,cujo tronco é coberto de 'penugem' |
Uma alameda de árvores de pau brasil nos conduz, colina
acima, à casa do Mestre.
Enquanto passamos por exemplares magníficos, como a
figueira de imensas raízes, trechos da vida de Burle Marx vão sendo narrados, a
começar pela longevidade de sua vocação, registrada desde a lembrança da
primeira muda dada pela babá, Anna Piacsek, aos sete anos de idade (na foto abaixo, Anna com os irmãos BM, com quem conviveu até sua morte, com mais de cem anos)
Vamos adentrando, ao longo da subida, as concepções
inovadoras de paisagismo de BM e o prazer que tinha em coletar plantas diferentes e
atrativas.
Observe-se o belo efeito de recortes e tons diversos de plantas de espécies aparentadas em uma elevação do terreno |
BM gostava também de descobrir variações pouco conhecidas e decorativas de plantas conhecidas por outras propriedades suas, como as alimentícias. Ao lado, um bonito exemplar da família da mandioca.
A capelinha de Santo Antônio, muito antiga ( do século XVII), restaurada com carinho, celebra missa para a comunidade local aos domingos, às sete horas da manhã e está aberta para casamentos e festividades litúrgicas.
A seguir, a casa de Burle Marx, no estilo colonial
brasileiro, onde podemos conhecer e admirar as inúmeras facetas artísticas do
Mestre.
A varanda da casa, ornamentada com carrancas. |
Em frente à casa, um lago, com dique ornamental |
Coleção de moringas do Jequitinhonha |
Peças de arte americana, africana, asiática na sala de jantar |
BM era um coletor do Belo,
no Brasil e no Mundo
no Brasil e no Mundo
Além de coletor, BM era um 'criador de muitas facetas do Belo'.
Em sua sala de jantar, seus quadros também ornamentavam as paredes.
E as toalhas eram pintadas por ele em sua 'Loggia'.
Um aquário trazia a natureza para dentro do espaço.
O Mestre pintando na 'loggia' |
Acima, sala de música (com piano que teria pertencido à mãe de BM) e teto por ele pintado.
Ao lado, sua sala de visitas era aberta à comunidade local no dia da Festa de Santo Antônio, que ele celebrava oferecendo a tradicional festa junina, embora não fosse religioso.
A coleção de arte sacra brasileira, na sala de visitas |
Acima, tronco de árvore fossilizado, com muitos milhares de anos; a superfície ao toque é macia como mármore.
Ao lado, diferentes incidências do sol numa curiosa planta peluda, que mais parece um personagem de filme de fantasminha.
Em um terraço coberto, a melhor inspiração da arquitetura
moderna no painel e águas, muitas águas a seu redor, cascateando...
.
Do teto do terraço coberto cai uma parede de água, que, dependendo do ângulo de visão, soma-se às bicas de pequena represa compondo um
conjunto de quedas d'água artificialmente dispostas, de belo efeito.
A água brota da terra, neste ponto, por pressão natural e o Artista moldou o lago a seu redor. Nas fotos menores, efeitos do sol no chafariz e reflexos de seu frescor à distância. |
Outras plantas, cuidadosamente escolhidas, encantam o
olhar...
Esta, ao lado, com as pontas alaranjadas, tornou-se o logotipo do sítio.
Ao lado, a espécie de samambaia mais antiga da Terra. Acima, a planta de cujas folhas se faz o chapéu panamá.
Enquanto isto ascendemos ao novo ateliê do artista, na eminência do terreno, que ele não chegou a usar.
O tom rosado do ateliê é dado por sua varanda.
As colunas que os sustentam foram desmontadas de um prédio antigo da Lapa e trazidas para o sítio onde foram remontadas.
Todo cercado de diversos tipos de palmeiras, o ateliê - que seria um espaço de práticas artísticas, aulas e exposições - é uma esplêndida conjugação de maestria artística e diversidade da natureza.
Nesta outra casa, as múltiplas facetas de BM são uma expressão suprema de seu talento.
A longa varanda do ateliê com cortinas de bambuzinhos para modular o sol e estátua ao fundo |
'Cristo dos Afogados' , trabalho de um artista nordestino baseada em fatos reais |
No amplo espaço do Ateliê,
um piano e um lustre feito de
garrafas PEt por BM
Abaixo, sala com as tapeçarias do Mestre.
À medida que vamos voltando ao ponto de origem, variadas perspectivas do jardim vão-se descortinando ante nossos olhos...
Vão-se sucedendo paisagens naturais... |
...em que os contornos estudados das águas ... |
...e das plantas dentro delas... |
... e das raízes aéreas que as circundam... |
... e dos caminhos que as dividem... |
..perfeitamente integram-se às rochas e às cores . |
... de folhagens e de flores ... |
.. até voltarmos ao portão de entrada onde uma composição de verdes e rubros, em múltiplos recortes se despede de nós...
A lojinha tem algumas sugestões interessantes, como os
livros abaixo ...
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