domingo, 7 de outubro de 2012

Nosso jardim (tropical) secreto: na barra de Guaratiba


Existe um lugar, o sítio Burle Marx, que é o jardim secreto dos cariocas, a tradução patropi do English secret garden de gratas memórias literárias e cinematográficas. Para aqueles que gostam de natureza e de arte e simpatizam com a ideia de escapar do miolo fervilhante do Rio para suas cercanias rurais, é o programa perfeito!

Vista distante da Barra de Guaratiba do ponto mais alto do Sítio BM, na varanda de seu ateliê 
Caluda, porém! Cariocas da Montanha têm em comum com os cariocas da Praia uma preguiça infernal de fazer reservas. Vai que chove! Vai que rebenta um cano no chuveiro! E se, de repente, aparecer algo imperdível?  Pior ainda, somos mais encucados do que a turma praiana quanto a manter compromissos – vai que eu peguei a última vaga, aquela da velhinha cujo desejo derradeiro era estar lá e então?

Ao lado do portão recuado, o logotipo do sítio 


Após as peripécias de achar o local – bem escondidinho comme il faut  (e de portão - recuado - fechado até a hora exata agendada) – é comum dar-se com os proverbiais burros n’água ao descobrir que para visitá-lo a reserva antecipada é obrigatória.  Pode ser por telefone, em horário comercial  (2410-1412) , o número de pessoas por grupo visitante é limitado (35 alminhas)  e a entrada é baratinha: R$ 10,00.
   
A visita é guiada por uma bióloga e somos discretamente acompanhados, o tempo todo,  por corteses guardas uniformizados, que não deixam ninguém ficar para trás. O sítio é muito bem preservado e amplamente integrado a recortes culturais que, como em uma faixa de terreno fértil (que vai, tradicionalmente, do brejo ao topo da montanha), abrangem desde a comunidade local às esferas globais.

Perambulamos inicialmente pelos ‘sombrais’, grandes estufas cobertas por um material que reproduz diferentes densidades de sombra e cujas espécies raras (como a 'flor peluda' abaixo) são assim preservadas em simulações de seus habitats naturais, podendo ser objeto de pesquisas internacionais. 




Outras plantas tropicais, de características curiosas espalham-se pelo terreno a seu redor.   

Veja-se esta palmeirinha 'peluda'  ,cujo tronco é coberto de 'penugem'
Uma alameda de árvores de pau brasil nos conduz, colina acima, à casa do Mestre. 


Enquanto passamos por exemplares magníficos, como a figueira de imensas raízes, trechos da vida de Burle Marx vão sendo narrados, a começar pela longevidade de sua vocação, registrada desde a lembrança da primeira muda dada pela babá, Anna Piacsek, aos sete anos de idade (na foto abaixo, Anna com os irmãos BM, com quem conviveu até sua morte, com mais de cem anos)  

Vamos adentrando, ao longo da subida, as concepções inovadoras de paisagismo de BM e o prazer que tinha em coletar plantas diferentes e atrativas.

Observe-se o belo efeito de recortes e tons diversos de plantas de espécies aparentadas em uma elevação do terreno 

BM gostava também de descobrir variações pouco conhecidas e decorativas de plantas conhecidas por outras propriedades suas, como as alimentícias. Ao lado, um bonito exemplar da família da mandioca.


A capelinha de Santo Antônio, muito antiga ( do século XVII),  restaurada com carinho, celebra missa para a comunidade local aos domingos, às sete horas da manhã e está aberta para casamentos e festividades litúrgicas.


A seguir, a casa de Burle Marx, no estilo colonial brasileiro, onde podemos conhecer e admirar as inúmeras facetas artísticas do Mestre.

A varanda da casa, ornamentada com carrancas.

Em frente à casa, um lago, com dique ornamental


Coleção de moringas do Jequitinhonha  
Peças de arte americana, africana, asiática na sala de jantar 














BM era um coletor do Belo,
no Brasil e no Mundo  





Além de coletor, BM era um 'criador de muitas facetas do Belo'.
Em sua sala de jantar, seus quadros também ornamentavam as paredes.  
E as toalhas eram pintadas por ele em sua 'Loggia'.
Um aquário trazia a natureza para dentro do espaço.  




A 'loggia' é um espaço externo, revestido dos ladrilhos do Mestre, onde havia uma grande mesa onde BM pintava tecidos e recebia amigos para jantar. Os lustres eram então enfeitados com plantas e flores do sítio,  o que é mantido até hoje, em sua lembrança. As bicas, no detalhe, vertendo água, tinham tripla função: diluir o cheiro da tinta, refrescar o ambiente e embalá-lo no sonzinho da água fluindo, uma constante no paisagismo de BM  
O Mestre pintando na 'loggia' 


Acima, sala de música (com piano que teria pertencido à mãe de BM)  e teto por ele pintado.


Ao lado, sua sala de visitas era aberta à comunidade local no dia da Festa de Santo Antônio, que ele celebrava oferecendo a tradicional festa junina, embora não fosse religioso.




A coleção de arte sacra brasileira,  na sala de visitas
  Ainda ao redor da casa, BM apreciava coletar e expor singularidades da natureza outras que as suas plantas tropicais ...



Acima, tronco de árvore fossilizado, com muitos milhares de anos; a superfície ao toque é macia como mármore.

Ao lado, diferentes incidências do sol numa curiosa planta peluda, que mais parece um personagem de filme de fantasminha.




Em um terraço coberto, a melhor inspiração da arquitetura moderna no painel e águas, muitas águas a seu redor, cascateando... .





Do teto do terraço coberto cai uma parede de água, que, dependendo do ângulo de visão, soma-se às bicas de pequena represa  compondo um
 conjunto de quedas d'água artificialmente dispostas, de belo efeito.



 Voltando ao jardim, um chafariz natural ecoa a sinfonia das águas.

A água brota da terra, neste ponto, por pressão natural e o Artista  moldou o lago a seu redor. Nas fotos menores, efeitos do sol no chafariz e reflexos de seu frescor à distância.
Outras plantas, cuidadosamente escolhidas, encantam o olhar...

 BM descobriu diversas espécies novas, várias tendo recebido seu nome.

Esta, ao lado, com as pontas alaranjadas, tornou-se o logotipo do sítio.

Ao lado, a espécie de samambaia mais antiga da Terra. Acima, a planta de cujas folhas se faz o chapéu panamá.


 Enquanto isto ascendemos ao novo ateliê do artista, na eminência do terreno, que ele não chegou a usar.



 O tom rosado do ateliê é dado por sua varanda.

As colunas que os sustentam foram desmontadas de um prédio antigo da Lapa  e trazidas para o sítio onde foram remontadas.

Todo cercado de diversos tipos de palmeiras, o ateliê - que seria um espaço de práticas artísticas, aulas e exposições -   é uma esplêndida conjugação de maestria artística e diversidade da natureza.

Nesta outra casa, as múltiplas facetas de BM são uma expressão suprema de seu talento.

A longa varanda do ateliê com cortinas de bambuzinhos para modular o sol e estátua ao fundo 

'Cristo dos Afogados' , trabalho de um artista nordestino baseada em fatos reais 

 No amplo espaço do  Ateliê,
um piano e um lustre feito de
garrafas PEt por BM

Abaixo, sala com as tapeçarias do Mestre.



Para descer, são quatrocentos degraus de cimento moldados já fixados no local.



À medida que vamos voltando ao ponto de origem, variadas perspectivas do jardim vão-se descortinando ante nossos olhos...



Vão-se sucedendo paisagens naturais... 
...em que os contornos estudados das águas ...

...e das plantas dentro delas... 

... e das raízes aéreas que as circundam...

... e dos caminhos que as dividem...

..perfeitamente integram-se às rochas e às cores .

... de folhagens e de flores ...
.. até voltarmos ao portão de entrada onde uma composição de verdes e rubros, em múltiplos recortes se despede de nós...



A lojinha tem algumas sugestões interessantes, como os livros abaixo ...

 O primeiro nos apresenta a outros espetaculares trabalhos de BM, em especial em fazendas da região serrana do Rio. O segundo, lindamente encapado em tecido similar às toalhas feitas pelo Mestre, além das receitas de cozinha dele favoritas, nos introduz á sua convivência saborosa com a vida e com a Arte (foi dele que retirarmos as fotografias do artista em preto-e-branco desta postagem).

 Mais informações e belas fotos do Sítio em : http://sitioburlemarx.blogspot.com.br/

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