O verão retarda sua partida este ano. As abundantes chuvas de março hesitam em tombar sobre a cidade, apenas respingam eventuais tímidas pancadas. Incapazes de dispersar de vez as sucessivas vagas de calor que assolam o Rio, cujo azul do céu persiste envolto em mortalha esbranquiçada. A vida vegetal sofre, mas resiste, adaptada por sua própria natureza aos rigores tropicais.
Por isto, a senhora que, em uma esquina de Copacabana, enche baldes de água, em pacientes e repetidas viagens entre a caixa d'água de seu prédio e um canteiro de rua, nos chama a atenção pelo inusitado de seu gesto.
Sua intenção carinhosa logo se revela, quando, munida de um regador verde, ela refresca a grande árvore ali em cativeiro e as plantinhas menores que a rodeiam, consolam e adornam.
Caridade transposta para uma dimensão ecológica, lembrando que não só sobreviver é necessário - o que as raízes da árvore lhe garantem, em tempos de escassez - mas Viver de forma mais plena é ainda mais preciso. E sabe-se lá, o que, no reino mágico das intenções generosas partilhadas, esta árvore citadina recebe do gesto desta mão humana, para melhor suportar a sua desterrada sina...
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