quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cinema e monotonia

Uma tarde cinzenta, uma brecha de tempo, a procura (pouco habitual na rotina de quem prefere ver os filmes nas telas de DVD domésticas) de uma sala de cinema - a maioria fechada no horário da tarde, por compreensível falta de público, em tempos internéticos.

No Museu da República, refúgio de - a princípio - erradias mentes inteligentes, um filme por sessão, um cartaz expõe a rarefeita oportunidade.

Um diretor consagrado, um elenco de elite e um filme europeu....

Tudo para desfazer um pouco a bruma do cotidiano pesado.

Certo? Errado !

Na plateia quase vazia, conseguia-se o prodígio das conversinhas paralelas dignas de matinês infantis






Quanto ao conteúdo do filme, por mera curiosidade, registre-se a opinião - corretíssima - da crítica especializada:

André Téchiné está mais interessado em processos do que resultados, e, não por acaso, seu filme soa desequilibrado, concentrando-se na maior parte do tempo no cenário em que um possível crime ocorreu do que em seus desdobramentos. (CINE WEB)
De Pierre Murat (TELERAMA)
Téchiné filma personagens que parecem girar em torno de si mesmos, sem poder se encontrar. [...] Resta o processo final, inútil e fraco. Guillaume Canet, estranhamente maquiado, beira o ridículo.
Clément Graminiès (Critikat com)
O luto impossível de uma mãe deveria marcar o filme e encorajar o diretor a tomar partidos claros, distanciando-se da prudente neutralidade que visa a "parecer verdade", enquanto quase todas as cenas (e particularmente a última parte, no tribunal) parece falsa.
Jonathan Romney
Essa fábula de riqueza, paixão e (talvez) assassinato, executada com requinte visual, mas um roteiro indeciso, lembra uma minissérie de TV antiquada, mal executada e menos inteligente que os melhores filmes de Téchiné.(Screen International )

Nossa discordância foi, porém, com o final da opinião de Ruy Gardnier (O Globo)
Téchiné tem o mérito de dar real consistência dramática a um modelo típico de história “baseada em fatos”, mas parece se contentar fácil demais com o ritmo morno da narrativa e com o carisma natural dos personagens. Em todo caso, antes um bom cineasta acomodado do que um espertinho farsante.

Não, senhor! Antes uma divertida sessão da tarde, sem maiores pretensões estéticas, no conforto do lar, do que uma confirmação, melancólica, da agonia do cineminha vespertino na solitária sala de espetáculo !


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