Cariocas da Montanha gostam de bichos. Uma coleguinha espirituosa
da Hípica comentou, um dia, plagiando os nomes retumbantes dos conjuntos
cavalo-cavaleiro: “Lá vem D. Quijote-della-Grota-Pralá-Du-Funda montando
Nimim!!!”
O Greenwich Park é
uma bela propriedade da Coroa, desde 1470. Abaixo, o Park, em dias
ordinários.
Aliás, conta a lenda que um americano queria a todo custo
comprar as sementes, adubos etc., para fazer, back in America, um gramado tão bonito quanto o de um certo castelo.
Disse-lhe the British gardener: “São sementes comuns, não custam nada, não
precisa fazer nada; é só plantar e regar durante uns quinhentos anos...”
Para o evento, o gramado foi coberto de 40 cms de areia para
constituir as pistas, de acordo com os trajetos dispostos por um ‘desenhador’.
Observem-se os detalhes das muitas águas – colocou-se um ‘lago’
no domingo e um ‘rio’ na segunda no meio do trajeto – que costumam desviar a
atenção dos cavalos, não lá muito adeptos de um acidental banho frio. No último
dia, as barras estavam no limite olímpico: 1,60 ms. de altura e 1,90 ms. de
largura. No desempate pela medalha de prata, onde o critério final seria o do tempo menor em caso de igual nº de pontos perdidos, o trajeto descartou a água e
permitiu – dado o desenho da pista – mais espaço para o galope dos animais, a
esta altura bem fatigados.
traçado da pista no domingo
traçado na pista na final individual da 4ª feira
trajeto do desempate pela medalha de prata
Neste sentido, foi um refrigério da alma ouvir o
comentarista do SporTv Luís Fernando
Monzon falar dos equídeos de forma mais que respeitosa, carinhosa. Ele
sempre lembrava as instruções do Comitê olímpico para respeitar o bem estar dos
animais, o “único participante involuntário das Olimpíadas”, inclusive quanto
aos traçados dos percursos que são agora menos longos e árduos e mais adequados a
ressaltar a habilidade técnica do conjunto. Esclarecia para os iniciantes os
atributos da Arte de montar, a posição correta do corpo do cavaleiro ajudando o
equilíbrio do conjunto, a suavidade que deve existir no contato entre a mão deste e a boca do cavalo. Como dizia um expert: ‘conduzir um cavalo pela
rédea deve ser sentido como guiar, delicada e firmemente, uma criança pela
mão...’
Um dos favoritos na Arte foi o alemão Marcus Ehning – montando Plot Blue – com seu porte impecável, posicionamento
perfeito de mãos, pernas, pé no estribo, sempre como que repousando sobre a
sela, totally effortless !!!
Ehning e Plot Blue
Nota simpática: no domingo, as descrições de Monzon denotavam
uma antropomorfização fascinante *1 dos méritos de cada animal: generoso, tranquilo, corajoso, encantadora... O problema do conjunto era quase sempre do/a
cavaleiro/a: inseguro/a, rude e mesmo enervante para com o animal ‘de quem tinha a companhia!’ (esta
estruturação semântica foi um primor afetivo!). Nos outros dias, se deteve na condução mais ou menos apropriada do cavaleiro, nas habilidades específicas deste e do animal
etc.
Ressalte-se sua elegância ao dizer que mesmo que isto não
nos fosse favorável, em termos da competição, não dava, por exemplo, para torcer
contra o conjunto em que Nimin era o ES-TU-PEN-DO
garanhão de 13 anos Casall * 2 e nenhum apreciador da vocação
aristocrática deste esporte discordaria dele !!!
Aliás, este é o charme especial do hipismo. Independentemente da
nacionalidade, torcemos pela vitória de cada conjunto e o AHHHH ... coletivo de
desolação quando um deles falha vem do fundo de nosso peito. Talvez, este
‘pecado’ *3 evoque, dentro da
antiga simbologia da equitação, o equilíbrio amoroso entre cavaleiro e corcel,
entre espírito e alma, necessário a serem superados os obstáculos nos sinuosos,
intrincados, exigentes trajetos da
vida...
Este mesmo espírito leva os expectadores a aplaudir atitudes
como a de van der Vleuten , que após ter
feito a segunda falta na final, não tendo, pois, chance de conseguir a medalha,
abandonou a competição, poupando seu cavalo Verdi de mais esforços.
Maikel van der Vleuten, of
the Netherlands and Verdi. Photo: David Goldman / AP at the 2012 Olympics, Sunday, Aug. 5,
2012, in London
Read more in: http://www.stamfordadvocate.com/sports/article/Britain-wins-team-show-jumping-in-gold-jumpoff-3765974.php#ixzz2398kGqNK
Abaixo, momentos de vibração multicolorida nas arquibancadas
e da nossa pequena torcida :
A seguir, uma panorâmica das fotos do Doda, nosso Cavaleiro
sem-Mácula (ou seja, ponto-Perdido), em seu percurso de domingo – o cronômetro
marca o avanço em relação aos 88 segs., o tempo limite. Aproveitamos para mostrar a decoração
fantástica em torno dos obstáculos, remetendo a elementos de London City, as
Pontes, a Torre, os ônibus vermelhos, o Big Ben, Abbey Road, os leões de
Trafalgar Square...
No domingo e na quarta-feira
alguns elementos foram substituídos: por exemplo, Darwin e natureza por ele desencantada
compareceram... Os melhores conjuntos da equitação por ali ‘evoluíram’
(permitimo-nos este ‘carioquismo’)... Tudo
com muita flor em volta...
Dentre os top conjuntos, no domingo , Edwina
Tops-Alexander desafia a teoria de Darwin com seu pequenino e bravo Itot du
Chateau, à direita embaixo.
Observe-se o detalhe, no alto à esquerda, de um banco dos parques de London, só para compor o cenário. Embaixo dele, Stonehenge. No meio da coluna da direita, uma justa de cavaleiros medievais (quão adequado!)
Um grande nome presente foi o do cavalheiro canadense Ian
Millar, em sua 10ª Olimpíada. O Cara tem 65 anos (1;85 m.. e 75 kgs), monta Star
Power, deve sua fama a seu talento em conquistas equestres, mas também à constante
fidalguia de maneiras e celebrado fair play. Para vocês conhecerem o Cara! Um
breve histórico dele abaixo * 4.
No detalhe do obstáculo acima, uma das embarcações que conduziram a Inglaterra à sua posição de senhora dos mares. Em sintonia com o cavaleiro vencedor, proveniente da antiga colônia do Canadá.
O aparato eletrônico nas Olimpiadas que permite que se comprovem faltas
assim que cometidas, em seus maiores detalhes, estendeu-se à equitação.
Podem-se flagrar varas se soltando e a marca do casco, em uma substância
chamada ‘plasticina’, caso o cavalo pise na borda da margem interdita no
obstáculo do ‘lago’.
A excepcional amazona
Meredith Michaels-Beerbaum insiste em
usar botas marrons (precisou de autorização especial, pois é contra os
regulamentos). Veja-se que é permitido usar botas pretas com uma faixa
vermelha, mas a Frau não quer nada pela metade.
Isto é que ser fashion!
Detalhe: para quem não sabe, a ‘touquinha’ que cobre as
orelhinhas das duas montarias serve para os
cavalos não se assustarem com ruídos.
Um cavalinho (termo afetivo!) interessante é o alazão Itot du Chateau,
pequenino , medindo 1;58 ms. na altura da cernelha (onde o pescoço se encontra
com dorso do cavalo). A maioria dos cavalos de competição mede entre 1;68 e 1;73 ms. Um poney mede 1;48 ms. , um
‘high poney’, 1;57 ms. Musculoso e ágil, este cavalinho foi descrito como uma
‘bolinha de músculos’. Montado por E. Tops Aleksander, da equipe
australiana. Tamanho não é documento, também para os equinos.
Flashs da velocidade de Itot, inclusive saltando a barra do final do trajeto.
Agora, informamos os resultados das Olimpíadas de saltos
para os ‘Nimim” .
1. Flashes da merecida vitória inglesa, na competição por equipes,
no domingo :
O cavaleiro inglês que decidiu a partida contra a Holanda
A euforia da vitória
Photo: PA
2. O Brasil ficou com o último lugar na classificação de
equipes. Explicação patropi :
Embora não tenha nem dado para fantasiar a possibilidade de
classificação nossa na final individual, ressalte-se, todavia, a constante boa
condução de um cavalo que não é a sua montaria usual e o charme hípico de
nosso Rodrigo.
3. Ao contrário de nossa pequena comunidade de apreciadores
da equitação, the English people are crazy about horses. Outros aspectos das
diferentes mentalidades entre nossos povos está naquilo a que se atribui o
sucesso ou o fracasso nas empreitadas ...
4. A final individual foi dramática. O cavaleiro Nick Skelton,
que persegue a medalha há anos, mais uma vez viu a vitória escapar-lhe dos
dedos na última rodada..
A respeito, mais detalhes em :
O placar final da competição individual
5 . Notinha jururu: é
uma pena que as transmissões no Brasil ignorem completamente a modalidade
‘dressage’, ou seja, a modalidade de
adestramento do hipismo, tão respeitosa ao bem estar do conjunto e à intimidade
da relação sutil entre os dois entes que partilham sua prática, assim como à
sutileza de seus gestos e seus mútuos ajustes de corpo e alma...
Mas o preconceito contra tal ‘elitismo’ não é só patropi.
Veja-se:
Nevertheless, o espetáculo como um todo foi tão bonito para
quem curte o esporte em particular e gosta de cavalos em geral que, diante
dele, ‘vitória’ e ‘derrota’ não passam de nomes...
Na metrópole de Londres, onde tradição e abertura cultural melhor convivem na Europa atualmente...
.. sob o signo das revoluções artísticas com a dos Beatles...
... interligando povos ...
... sob o Signo da Equitação !!!
Bom fim de semana para todos,
Os redatores
Notas:
*1
Antropomorfização à qual somos francamente favoráveis!
Fica aberto para debate: Nossos bichos de estimação –
cavalos, aves e peixinhos incluídos – são gente-da-gente ou não são ? Ou, se entram em competições
perdem este status de gente-da-gente e viram só produtos de prestígio ?
* 2
Veja-se como é organizado o pedigree de um destes belos
animais , o de Casall (em outro evento).
Casall la Silla
Holsteiner Bay 1999
167cm Stamm 890
Caretino
|
Caletto II
|
Cor de la Bryere
|
Deka
|
||
Isidor
|
Metellus
|
|
Corbala
|
||
Kira XVI
|
Lavall I
|
Landgraf I
|
Madam
|
||
Maltia
|
Raimond
|
|
Duldige
|
Casall showed his exceptional jumping ability and quality right from the start
when he was approved in Holstein in 2001. The Caretino son demonstrated his
scope at his performance test where he was placed second from his group with a
jumping index of 138. He was considered with high hopes and as a result has
been frequented often by the top breeders.
*3
A etimologia de ‘pecado’ é fantástica e tem tudo a ver com a
equitação.
‘Pecar
significava, primitivamente, fazer passo em falso, perder o pé e, portanto,
cair, falando-se de cavalos e outras montarias; depois, figuradamente, fazer
mau passo moral, errar, cometer faltas.
In: Silveira Bueno: Grande Dicionário Etimológico Prosódico da
Língua Portuguesa. Saraiva:São Paulo. 1968 , p.2927
* 4
Extracted
from On-line The Boston Globe - About Ian
Millar
LONDON — Canadian equestrian Ian Millar rode into Olympic history Saturday by competing in his 10th Games — the most of any athlete. The 65-year-old Millar, aboard Star Power, was riding in the show jumping qualifying round for individual medals. He surpassed Austrian sailor Hubert Raudaschi, who retired in 1996 after appearing in nine Games. Millar has been an Olympic competitor for 40 years, and the only Games he missed since he began were the Western-led boycott of Moscow in 1980. His first Games were in Munich in 1972. ‘‘I am better now than I was then in knowledge and experience,’’ he said. ‘‘The age of the top riders tends to be older because it takes a lot of time to be consistent.’’ Millar said he feels the same physically as he did when he started his Olympic career.
Millar is known as ‘‘Captain Canada’’ in his home country, where he is a national sports hero. He twice won jumping’s World Cup but has only one Olympic medal — team silver in Beijing in 2008. He contributed a clean round there to bolster his team despite riding with a broken hand. He hasn’t ruled out the possibility of competing in the 2016 Games in Rio de Janeiro, but his horse’s age is more the issue than his own.‘‘Star Power is 11 now, so the next time around he'll be 14,’’ Millar said. ‘‘If he is willing, I am willing.’’ He said dropping a rail in the preliminary round Saturday was better than in the two-day team competition, which starts Sunday. ‘‘I would have preferred one less rail,’’ Millar said. ‘‘But better tomorrow or the next day.’’
Welcome to Rio in 2014 , Ian !!!
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