sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Tour do OiR : a insuspeita extensão da paisagem cultural do Rio


Na postagem de Sete de Setembro, falou-se da inauguração, por aqueles dias, da OiR e do passeio prometido pelos organizadores da Mostra por algumas de suas obras, que temíamos constituir-se num ‘Oip’! =  Officially Indigenous Programme. Interessou-nos, particularmente, a extensão da proposta, abrangendo um perímetro variado e inusual da cidade. 




A procura foi grande. Inscrevemo-nos no dia seguinte e só conseguimos vaga para o último fim da semana, quase no final da exposição (que termina hoje dia 2 de novembro), que dado o seu caráter de arte pública é essencialmente efêmera. E ficamos felizes de informar que tudo correu às mil maravilhas, desde o lembrete pelos organizadores de nossa inscrição na véspera do dia agendado como em toda a parte operacional do passeio. O ônibus é muito confortável, com ar condicionado potente, toalete a bordo e água gelada fartamente disponível. 


Relembrando, segundo a propaganda (muito pouca, de acordo com as exigências da lei Rouanet que regeu o evento):

  Há um ano, os ingleses Andy Goldsworthy e Brian Eno, o espanhol Jaume Plensa, o norte-americano Robert Morris, o japonês Ryoji Ikeda e o paulista Henrique Oliveira foram convidados a intervir artisticamente em paisagens do Rio. A ideia do curador Marcello Dantas era dar novo olhar, uma perspectiva estrangeira, a lugares por onde cariocas passam todos os dias. "A imagem da cidade nos foi em grande parte passada pelos estrangeiros que passaram aqui", ele lembra.
Plensa e a esguia face de sua Awilda 


O resultado foi a mostra internacional de arte pública "OIR - Outras Ideias para o Rio", com instalações e esculturas de quatro destes artistas em espaços públicos. 
Show de Eno na Lapa 

As obras de outros dois, Ryoji Ikeda e Brian Eno constaram de intervenções, a do primeiro na Praia do Diabo, em Ipanema, com projeções na areia e no mar, e a do segundo nos Arcos da Lapa, com luzes e música.


Nosso passeio começou na churrascaria Fogo de Chão com a coordenadora cultural do passeio lembrando o título recente dado pela UNESCO ao Rio de patrimônio de paisagem cultural, ou seja, aquela modificada pela intervenção do homem.


O primeiro dos paineis transparentes em acrílico que explica cada peça é adornado pelas cores pasteis do céu, do mar,  das sonolentas margens da enseada de Botafogo.











O ônibus trafegou devagar ao longo da praia, contornando a  alva cabeça de mulher de Jaume Plensa emergindo das águas, exibindo, a depender do ângulo de observação,  cartões postais da Maravilhosa...









A paisagem humana dos banhistas e esportistas acrescenta movimentação a esta sucessão de ‘slides’...






Na Cinelândia, Robert Morris construiu um labirinto de vidro; o painel é encimado pela fachada restaurada do Municipal. Podia ser mais chique? 






Em volta, edificações antigas e até foi planejada a eventual subida em suas largas escadas  para apreciar de outro ângulo o labirinto, cuja forma é triangular.  


No Cais do Porto, em meio a grafites e calor, a entrada estreita para a apreciação do trabalho de  Andy Goldsworthy.  

Valorizando a renovação da área, dentro de um prédio antigo – que já foi, inclusive, fábrica de sabão –  , o frágil Domo de Argila foi construído para durar pouco, na melhor tradição da arte conceitual. 


No local funciona Centro cultural em processo de expansão 




Com efeito, o domo em si já havia ruído quando a exposição se inaugurou. Assim, nosso contato é já com as entranhas desta oca submersa na estrutura quadrada da fábrica.




E com o frescor penetrante da sua superfície 'craquelada' 


Enquanto rumamos em direção à distante Madureira – e um dos méritos da mostra foi incluir a Zona Oeste no itinerário – vídeos sobre o processo da inspiração e da manufatura das obras são exibidos na tela do ônibus. 

Um dos mais interessantes nos pareceu  o trabalho de Goldsworthy, uma vez que o artista quis ‘reverter o processo’ que teria levado à construção de tijolos como os da fábrica onde o domo se hospedaria. Pesquisou a origem da argila que os compôs e a ela acrescentou feno e cabelos humanos, recolhidos de cabeleireiros do Rio todo para dar certa consistência – simbólica também – à sua argamassa.  
Goldsworthy
Para ver o vídeo de Goldsworthy na íntegra – aproveitando para uma olhada na repercussão internacional do evento – acessar: 
 O ônibus nos conduz, enquanto isto, suavemente, às entranhas da Maravilhosa...
As casas que chamamos lar, arte popular no mural e no endereço da oficina e mamões no terreno baldio 



No Parque de Madureira, recém-inaugurado pela Prefeitura onde havia uma favela, numa área antes ignorada pelo circuito tradicional de museus, o painel da amostra, qual lembrança da eletricidade estática no fulgor tropical do quase-verão.






Henrique Oliveira instalou sua Cascasa, um túnel curvilíneo feito de restos de madeira, coletados também por toda a cidade. 

A intenção declarada pelo autor no vídeo foi a de uma espécie de recuperação poética das casas feitas de sobras da antiga favela... 

 Por dentro, um efeito de casca de caramujo e o alívio da canícula. 

Planeja-se que a mostra ocorra também em 2014 e 2016, quando a cidade estará repleta de estrangeiros, numa interessante proposta de cruzamento dos olhares domésticos e forasteiros. 

 Na volta, Awilda, nossa bela adormecida, de nós se despede...

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