Ademais, a chuva nos envolve em bruma úmida, similar à névoa do esquecimento que assombra os personagens do magnífico O Gigante Enterrado de Kazuo Ishiguro.
Após dez anos sem escrever (desde o tristíssimo Não me abandone jamais),
agora o autor remonta a um período mítico, na Inglaterra logo após o reinado de Arthur, onde os habitantes são assolados por uma névoa de esquecimento do passado. Um casal de idosos resolve sair da pacífica mas empobrecida situação em que vive, em uma aldeola bretã, à busca de um filho de que mal se lembram. Logo, a jornada adquire proporções épicas, nos moldes das epopeias cotidianas que tão raro assumem aos olhos dos próprios agentes estas dimensões.
Entram em cena personagens cuja importância vai crescendo com a narrativa, como o guerreiro Wistan, o menino aprendiz Edwin e o antigo cavaleiro de Arthur, Sir Gawain. Monges e ogros, barqueiros tristes e mulheres desesperançadas permeiam as peripécias. As sucessivas descobertas revelam - bem ao feitio pessimista de Ishiguro - que, em uma terra que mal deixara para trás batalhas cruéis entre saxões e bretões, a única alternativa ao oblívio seria o profundo ressentimento. Também na vida privada, seria melhor o silêncio do que a lembrança, mesmo nos relacionamentos aparentemente mais amorosos. O moto que percorre esta longa digressão sobre memória, significado da vida e da morte seria, pois: "Remember everything, and you lose the ability to forgive."
Kazuo Ishiguro, japonês de nascimento, naturalizado inglês |
Para um primeiro contato com o livro, alguns minutos da leitura - em lindo inglês - de suas primeiras páginas, disponível no site de The Guardian
http://www.theguardian.com/books/2015/mar/04/the-buried-giant-review-kazuo-ishiguro-tolkien-britain-mythical-past:
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