domingo, 25 de outubro de 2020

Da Seca à entrada da Primavera

 Foi muito dura a seca este ano. Saindo da AmadaMata (ver postagens anteriores) , dei uma rápida passagem pelo sítio, para pagar meus caseiros, visitar a Ritinha com a perna quebrada  e ver como andavam as coisas. Em Macaé  de Cima seus efeitos não são visíveis, ao contrário  do que acontece na altitude só um pouco mais baixa de meu sítio 

Embora a seca ainda deixe as estradas mimetizadas  em camadas de pó em suspensão e as matas estejam ralas e um pouco estorricadas, o reinado de flores da primavera que começa se impõe a esta paisagem menos amena ...

Logo à entrada , o bouganville 'cor da terra' - que custou muitos anos a brotar - resplandece. Seu colega rubro  que encobre um cantinho de conversas com Moisés não lhe fica muito atrás,  


O pezinho antigo de 'buquezinho de noiva' parece ter renascido; a partir de podada folhagem ao redor, os manacás velhíssimos da cerca original rebrotaram. 

O mais paradigmático da estação de transição são as flores do pé de cactus; ele cresceu muito e elas também parecem joias delicadas  incrustadas em  cascas duras como couraças cobertas  de espinhos.

Uma arvorezinha de frutas cuja vitalidade de enfrentar a seca me surpreendeu foram meus dois pezinhos irmão de figo. Não só estão bem robustos e crescidos, como já cheios de figuinhos, 

E o meu jabuticabal está todo florido ! Que perfume delicioso acolheu a minha breve visita !

  Agora é torcer para que chova , para que estas flores espoquem em frutas luzidias, pretas e deliciosas ! 


P.S. Como estou postando estas mensagens um pouco atrasada, soube que já andou chovendo por lá, pouco mais  que uma garoa, mas suficiente para ajudar a maturação da flor em fruta!!! 

 Benza Deus !!!! 

Amadamata III

 Continuo o relato das postagens anteriores. Com o comentário preliminar de como é importante um período um pouco mais extenso de tempo para um descanso realmente efetivo , em termos de um desligamento mínimo das circunstâncias estressantes usuais...  

No terceiro dia de minha estadia, após o café , fui caminhar até o "centrinho" da Reserva Ecológica de Macaé de Cima... lembremo-nos que não há absolutamente nenhum comércio... o rio, caudaloso,  e alguns suaves afluentes nos acompanham em todo o caminho, na estrada de terra...  e sítios, maiores ou menores, nos inspiram profunda inveja de seus proprietários...   

O 'centrinho' é constituído pura e simplesmente  de uma antiga igrejinha finlandesa preservada ...
Conversei com moradores, do jeito  leve e solto comum aos breves companheiros de um trecho do caminho. Dentre elas Solange, dona de pousadinha da região ... mas nem lembrei de tirar foto de um ser humano, mesmo esta sendo um seu espécime particularmente simpático ... 

Voltei um pouco atrasada para o horário do almoço, conversando com a jovem chefe Fabiana pela estrada.  Há diversas escolas gourmet na região, em uma das quais ela é formada, daí a excelência  dos pratos gourmet oferecidos ... E éramos só um casalzinho amoroso de enamorados (com quem entretive agradáveis brechas de amena conversa) e eu ;  no domingo à tarde, estava tudo sendo, pois, preparado  no nosso ritmo ... 

Assim, após outro delicioso banho no Poço da Horta - agora deserto e aumentado de profundidade pela chuva  da noite anterior -  , degustei no almoço um delicioso filet mignon com molho de gorgonzola !


De tarde, continuei explorando o hotel por dentro , Detive-me na Casa do Alemão, o 'centro de convívio do hotel ', planejado para dias em que esta sociabilidade de fim de semana unisse os hóspedes da ocasião. E oferecendo recursos caseiros para tornara a estadia, em local remoto, longe das bugigangas consumistas, mais próxima do usufruto daqueles de um Lar. 




Por dentro, ele lembra muito um chalé de família no estilo alpino com lareira, mesinha de jogo de cartas, mesa  de bilhar, barzinho, poltronas confortáveis.





Oferecia uma biblioteca , 
 com mesa, cadeiras 
   
e belos quadros de pássaros 


                           Assim como uma vasta 
                            e bem escolhida seleção 
                            de videos dos quais levei
                           vários para minha última
                           noite no Hotel  
...





Enquanto escurecia , tudo bem lentamente, fui me detendo nos múltiplos arranjos de flores, ao longo dos terrenos verdes. 


Não se constituíam em canteiros,  as flores eram mais esparsas nos espaços, como que para ressaltar a singularidade de cada espécie. 
Assim , algumas brotam na ponta de longas hastes...



Outras, em montinhos de cor e perfumes no chão, orquídeas rasteiras, 


e amores perfeitos brotam do tronco  de árvores 





Assim como lírios se alinham juntos  àqueles dos  pinheiros.  


 

Antes de outra noite repousante, após um vídeo cult,  mais um jantar saboroso, mais um pouco mais dos meus escritos na rede da varandinha face à alameda de pinheiros ...


,,, a lembrança mais agradável, dentre tantas outras, que me ficou desta Amada Mata...  





    




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Amadamata II

 Continuando meu relato de minha estadia no Hotel Amadamata (ver postagem anterior).

Sábado amanheceu azul e dourado, quente e sereno.   

Acordei revigorada e fui tomar café no restaurante das janelas do qual se vê o rio passando lá embaixo ...'Desjejum'  farto  com tudo no capricho, inclusive o café coado na hora... 

Depois fui conhecer o rio , cujo ressonar macio embalara meu sono ...  

Devo passar por uma pequena horta orgânica com espantalho para atingir os dois poços , ambos bem próximos de minha cabana do Picapau. 

O primeiro poço, ensolarado, era o da Horta, No dia luminoso e claro que fazia, fiquei lá um pouco mais de uma hora antes que outros hóspedes fossem se aproximando...



Parti , então, para o vizinho Poço Sombrio. Envolto em sombras das árvores que o abraçam, ele foi um refrigério de sossego e frescor. Na água transparente,  cardumes  de peixinhos me cercavam e me senti na pele mutante de uma nereida preguiçosa ...




Fiquei tempos esquecidos imersa nas águas até o almoço deliberadamente tardio,  às 14 hs, ; comida  excelente, prato do dia,  pescadinha com preparo gourmet . E de tarde, fiquei flanando pelos espaços do jardins do refúgio, tanta coisa pra ver, em volta e perto  !  

            Muitos cantinhos, privilegiando a agua abundante, com denominações sugestivas ... 

Há a preocupação de preservar a herança finlandesa da proprietária anterior : veja-se o fogãozinho antigo de lenha (tenho um similar no ´sitio) , a corujinha feita de palhas e o galinheiro, com vocação também ecológica. O espaço para os ninhos e os ovos fica dentro de uma casinhola estilo suíço, com jeito de lar para as felizes aves... 
 


Uma casinha na árvore é uma 
insuspeita surpresa para as crianças . 
Devem ser raras em local tão propício a casais e a 
solitários andarilhos  sonhadores 


Mas imagino que seriam também crianças cismarentas e pensativas, cheias de imaginação, estimulada , aliás, pelos livrinhos no interior da casinha e sua pequena varanda debruçada sobre o rio... 

Outro local guardião da tradição são os remanescentes da antiga sauna finlandesa... 

Como em todos os espaços merecedores de registro, também aqui um pequeno cartaz  preserva sua atemporal presença, qual arquivo da memória da rica múltipla colonização que criou a identidade brasileira. 

 E, marca da renovação, que assegura a perenidade do legado, uma sauna a vapor deliciosa , é a versão contemporânea da sua ancestral. Foi pra lá que me dirigi, após tal 'passeio no meu jardim adjacente'.

Talvez tenha sido a primeira vez que me permiti curtir todas as etapas deste tipo de sauna sem qualquer pressa. 

A própria sala do vapor tem janela para o verde e mesmo em meio à fumaça úmida podemos vislumbrar este 'patch of green'. o que nos estimula a nela permanecer por período maior, para dela usufruir seus melhores efeitos.

Para tal contribui a sala de descanso anexa. Quando a temperatura se torna escaldante, após o choque de uma grande ducha fria, no cômodo ao lado, um descanso e um copo de água refrescante no intervalo, nas chaises longues, nos permite voltar ao vapor e seus benefícios para a saúde...   

Também deste cômodo cômodo, a repousante paisagem natural é acrescida do vôo dos pássaros, eternizados no vidro das janelas... 



O jantar foi truta seguido de applestrudel com creme Chantilly ; da janela, a ponte iluminada que interliga a entrada do Hotel á sala de refeições era uma réplica imperfeita dos vagalumes e estrelas que enfeitavam a noite ... 


Tive muito o que escrever em meu Diário de Viagem ! Um dos locais em que o fiz foi na mesinha da minha varandinha... 

Outra vez, um sono longo e profundo seguiu-se a este vagaroso e longo dia... 

                                            





domingo, 18 de outubro de 2020

Amadamata I

 Foi uma brecha  importante , em minha vida tão corrida, entre obrigações citadinas tão maçantes,  ter achado o Refúgio Ecológico Amadamata, em Macaé de Cima, no caminho do sítio, antes de Friburgo e , mesmo, de Mury.

Minha caseira havia quebrado o pé e estava já há um mês sem poder cumprir suas obrigações no sitio. Insisti em subir, para manter o ritmo de presença. Mas queria aproveitar esta 'quebra' - que me foi imposta independente de minha sempre tíbia decisão a respeito - para abrir novas perspectivas de viagem.

Comecei por perto.  Achei o refúgio na Internet. Só cinco cabaninhas , em altitude elevada . em meio à mata enfeitada por rio caudaloso mas raso. 


O mapa, na Internet, assim como as bonitas fotos do bem montado site - observe-se  um amigo conversando no canto da tela comigo e me encorajando a viagem - ,  já me facilitou a reserva do chalezinho afastado . A estrada de terra, a quase uma hora do asfalto é íngreme, mas bem transitável. 

Enquanto a atravesso, a vegetação vai mudando e incorporando aquela aparência mais 'alpína' que tanto aprecio,  com alongados pinheiros e vegetação nativa também diferente da que me cerca em meu sítio, que já está na rota para Bom Jardim. 


São doze e meio quilômetros entre o asfalto e o Hotel.       

Quando já estamos bem adiantados no caminho ,
surgem, setas que sinalizam uma pequena comunidade
tranquila e esparsa , incluindo espaços para retiros,  
          pois o local está inserido
em reserva ambiental protegida. 




Eu havia escapulido do  Rio, 6ª feira  depois do almoço. Foi uma alegria constatar ao chegar que minha cabaninha era tão reservada e charmosa como anunciavam as fotos que a ilustram no site . 



Fica pertinho do rio, donde se ouve o seu cantarolar á noite ...  E suas vistas são tão agradáveis !

Da cama, olhando à esquerda, para a porta de entrada, além da varanda, tem-se uma alameda linda de pinheiros antigos.


De acordo com a hora do dia, estas árvores altaneiras dão margem a fantasias  poéticas, como na imagem da direita , onde as formas enrugadas dos troncos nos fazem imaginar que são as marcas de dríades e hamadríades  que através deles se esgueiram para o Pomar das Fadas logo adiante...  

  




 Da mesma confortável  cama , olhando em frente, outra janela descortina uma campina suave, além das quais estão caminhos  levam a outras casinhas de usos aprazíveis diversos , todas entretanto discretamente afastadas de nosso olhar ... 


Outros detalhes que fazem  o quarto tão 
acolhedor são a lareira - que , infelizmente, não estava funcionando, o que não fez muita diferença, pois estava bem quente até mesmo naquelas alturas  - mas que confere ao ambiente um clima especial,  de qualquer maneira .

E a mesinha sob a janela em frente à cama , confere  um jeitinho de casa ao aposento; ao lado dela uma TV com DVD acoplado é sugestão para  possiveis videozinhos noturnos (fornecidos pelo Hotel) ...



  Cansada da viagem , desarrumei as roupas rapidamente e , depois de beliscar  as frutas que trouxera, fui dormir cedo, inebriada pelo silêncio absoluto e esplêndido! 


Lá fora , na varanda envolta nos sons dos grilos e nas travessuras dos vagalumes , o picapau que zelava pelo encanto do meu entorno também adormecia...