À minha Mãe
A velha árvore tem quase cem anos. Mais precisamente noventa e seis ciclos de estações transcorreram , entre rigores de invernos e o florescer de sempre inéditas primaveras...
A velha árvore começa a tombar. Seu espírito mantem-se altaneiro e alerta e suas folhas filtram a água da chuva com contínua alegria e sabedoria.
Mas seus galhos não suportam mais o peso de quase dez decênios de tarefas !
A velha árvore gosta de lembrar que seu altivo tronco sempre serviu de escada para quem dela quisesse fruir a sombra gentil e compreensiva da copa.
Mas agora, o antigo aliado vacila e as ramagens devem ser sustentadas por amparos estranhos à sua natureza independente .
Seus esteios eleitos são todas as extensões de madeira nobre, que brotaram de sua seiva durante a vida inteira. Agora sua identidade se nutre da própria coragem de olhar para a finitude à frente, sem temor, com a consciência de que o ideal presente em seu cerne mais intimo se multiplicou a seu redor . em palavras e atos.
A velha árvore cochila e sonha que as raízes que compartilha com a Terra deixam um legado de sua história mais perene que sua verdejante corola.
E assim , para além de seu destino iminente, ela se perpetua em Dignidade e Beleza.
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