domingo, 27 de fevereiro de 2022

A atração da cidade: a alma oculta dos Shoppings

 Impelida por necessidade urbana que se impôs à rural -  o uso compulsório do celular para quase todas as nossa comunicações pertinentes (às impertinentes faço questão de ignorar) - e tendo em vista que o meu aparelho (já velhinho, quase obsoleto, com quase quatro anos de uso) está pifando, fui perambular pelo Shopping Leblon, o mais perto de minha casa, para investigar como substitui-lo, com a melhor relação possível custo-benefício.   

Shoppings sempre me deprimem um pouco. Lojas cheias de roupas que não me encantam, restaurantes  com iguarias que não me tentam e nada de céu, verde, ar ...  A própria Caverna do Saramago !. 

Para alívio meu, no fundo de um dos andares, uma grande Livraria da Travessa; pensei "Conseguirá este espaço sacro de busca de Verdades resistir ao sobrecarregado apelo das Mentiras consolidadas a seu redor ?"

Que bom que resistiu ! Como se uma alminha trêmula vibrasse ainda por sobre as carcaças luminosas das encarnações diversas do Consumo, da Gula, da Ganância que o assoberbam .

Comprei uns livrinhos, tomei um capuccino no mezanino e saí mais reconciliada com a vida ...


  


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A atração da Cidade: emblemátrico almoço com minha amiga urbana

 Minha amiga Zilah é a mais antiga de minhas amigas :  com ela compartilhei as cumplicidades dos primeiros amores, a prática talentosa da escrita poética e do desenho - Zilah indo além de mim e pintando lindamente -  e todas as coisas boas do universo urbano.

Fizemos juntas , ao longo de mais de quarenta anos, uma plêiade de atividades .  Desde as que mais me agradam -  cursos  de múltiplos assuntos e visitas a sortidos  Museus - até as que, sem ela, seriam as mais arredias à minha tendência maior reflexiva . Registrem-se, aqui,  dezenas de almoços em espaços requintados e idas incontáveis a Shoppings. Em sua companhia, estas últimas  incursões  ganhavam, para mim, um tipo de significado (aderente àqueles dos aspectos mais abstratos das realizações da Civilização)  que me surgiria  rarefeito sem o prazer de sua companhia. 

Pois esta dileta amiga sofreu, com dez dias de diferença, uma perda tão sofrida para ela  como a, para mim, de minha mãe : foi-se embora desta Esfera  o Walter, companheiro e marido devotado e bem-amado por mais de  três decênios... Compartilhamos, pois, agora, nossos lutos.

Passam-se os meses e a existência volta-nos a fazer seus apelos...

Almoçamos juntas em seu apartamento aqui pertinho do meu, com vista para as belezas da Lagoa e do Jardim Botânico. Tudo em volta transpirava os confortos da Cidade com a qual  ela tem tanta empatia: os móveis macios, a mesa bem posta, a comida gostosa de um restaurante sofisticado próximo e o vinho delicioso da adega que ela e o Walter cultivavam com capricho. 

Desabafamos tristezas recentes e nos animamos com lembranças e esperanças mais risonhas...


E , em um gesto bem típico dela, minha sempre otimista amiga Zilah, refletindo  o Imperativo fundamental da Vida, ergueu-lhe , em cálice de fino cristal, um quase contrafeito mas reverente,  triunfante  brinde ! 




terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

As flores e os translados

 Difícil falar de todas as minúcias de desfazer a casinha tão bonita e bem entrosada de minha mãe e levar embora  seus móveis, quadros, pratas e louças, plantas queridas e pequenas preciosidades de suas memórias...


Cada grupo destas ''flores da alma', que enfeitam a existência, vai pra minha casa, para o sítio, para a casa da fiel empregada da mamãe ... para dar-lhes espaço no meu lar na cidade , separo coisas nele há muito guardadas para viajarem para meu lar do campo... e modifico propostas de como ocupar estes dois espaços - que cada vez mais dividem sua importância em minha vida - em função da futura breve ocupação pelos móveis e acessórios de minha mãe. Legados de uma dada época, de uma bela filosofia de vida e de nossas entrelaçadas e também às vezes entre si alienadas histórias de vida. 

Não quero aqui exibir as pilhas de caixas - de todos os materiais - de sacos, de  resíduos, que enchem os cômodos e cada dolorido fragmento de tempo de que disponho para revirar estas gavetas repletas de novelos de poeiras e de  névoas douradas . 

Então, apelo para a poesia da Natureza e, enquanto perambulo, nos meus momentos mais raros ainda de descanso, pelo meu amado Jardim Botânico, vejo os diferentes efeitos das quaresmeiras em flor nesta época do ano,  conforme caminho  pelas onduladas veredas do parque e estas árvores feitas de estranhas rosas suspensas transladam-se em múltiplas formas e perfumes, de acordo que a perspectiva de que as vislumbro. 


São estas as imagens que quero ter na lembrança desta fase de redefinição de quem eu sou, após a despedida , em minha própria história, do contato físico com este elemento simbólico e carnal crucial de meu reconhecimento de mim mesma, que foi, que é a minha mãe de sangue .


Indo além dos objetos concretos e perecíveis em si, projetando as fímbrias de tais percepções nas luminosidades e nas sombras de  árvores em flor no Parque que minha mãe me ensinou a frequentar, admirar  respeitar, honrar e, acima de tudo, a amar.  






sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

E a Natureza segue, impávida e paciente, em seu estável ritmo ...

 No sitio, no primeiro mês do novo ano, tudo segue um ritmo de regeneração, enquanto vou cicatrizando muito devagar as feridas recentes da cidade...

Com as chuvas abundantes deste verão, o capim recém-semeado prospera. 

Os pontinhos brancos são espantalhos, espalhados pelo verde.

Moisés plantou toda a área arada e deixou que o vento que carrega as sementes as espalhassem dos brotos  para o pastinho não-arado vizinho. Aqui obedeci à intuição do agricultor sobre a do agrônomo.  

O milho cresceu modesto enquanto o forte braquiarão se impunha; talvez não dará muitas  espigas; mas os seus  caules caídos serão uma guloseima extra para minha mini-boiada.

Só é possível plantar o milho consorcido  enquanto o braquiarão foi recém plantado; depois, o super-capim não deixa mais vez para ninguém... 
Outra vez aqui, segui o conselho do agricultor. 



Já a leguminosa parece que vai conseguir manter o vegetal consórcio quando o Piatã também já tiver crescido . O capim Piatã e a leguminosa foram sugestões do agrônomo. 

Vamos ver quem se sai melhor - tomara que os dois ! -a médio prazo. 


O meu varal de maracujá foi trabalho conjunto dos dois. Eu esperava que só tivesse maracujás para meus sucos ano que vem. Mas pelo jeito que  floração está indo, acho que este ano já posso contar com meu estoque para 2022 (Moisés congela a polpa em garrafões para uso durante todas as estações)

Visão  geral do varal de maracujá 


A lindíssima flor do maracujá 
    . 

... e mais flores  longo desta parreira tropical, em diversos estágios de se transformar  em fruto.. 

... e, as mais precoces, já o fazendo... 

No curral, Mococa e Pretinha (esta a principio, já inseminada ) continuam a dar leite ...




.. enquanto seus lindos filhotes, sempre espreitando  do lado de fora do curral,  vão crescendo ...

Moisés leva, enquanto nosso pasto se reconstitui , as mães para pastarem no vizinho. Elas vao tranquilas...  

...e Mocoquinha e Patinhas Brancas .ficam tranquilos também...

Já a dupla Laranja e Orelhudo não suportam ficar separados ... Se Moisés a leva e ele fica, berram  sem parar o dia todo... .Se ele leva  os dois, ambos pulam ou rompem cercas para voltar para o seu pastinho...
A princípio, ela está prenha. Mas, com minha total aquiescência, não desmamamos o bezerrão. 

Que fiquem o mais possível juntos, enquanto os destinos tão diversos da fêmea e o do macho crescidos de  sua espécie não os exilarem um do outro ...