Minha amiga Zilah é a mais antiga de minhas amigas : com ela compartilhei as cumplicidades dos primeiros amores, a prática talentosa da escrita poética e do desenho - Zilah indo além de mim e pintando lindamente - e todas as coisas boas do universo urbano.
Fizemos juntas , ao longo de mais de quarenta anos, uma plêiade de atividades . Desde as que mais me agradam - cursos de múltiplos assuntos e visitas a sortidos Museus - até as que, sem ela, seriam as mais arredias à minha tendência maior reflexiva . Registrem-se, aqui, dezenas de almoços em espaços requintados e idas incontáveis a Shoppings. Em sua companhia, estas últimas incursões ganhavam, para mim, um tipo de significado (aderente àqueles dos aspectos mais abstratos das realizações da Civilização) que me surgiria rarefeito sem o prazer de sua companhia.
Pois esta dileta amiga sofreu, com dez dias de diferença, uma perda tão sofrida para ela como a, para mim, de minha mãe : foi-se embora desta Esfera o Walter, companheiro e marido devotado e bem-amado por mais de três decênios... Compartilhamos, pois, agora, nossos lutos.
Passam-se os meses e a existência volta-nos a fazer seus apelos...
Almoçamos juntas em seu apartamento aqui pertinho do meu, com vista para as belezas da Lagoa e do Jardim Botânico. Tudo em volta transpirava os confortos da Cidade com a qual ela tem tanta empatia: os móveis macios, a mesa bem posta, a comida gostosa de um restaurante sofisticado próximo e o vinho delicioso da adega que ela e o Walter cultivavam com capricho.
Desabafamos tristezas recentes e nos animamos com lembranças e esperanças mais risonhas...
E , em um gesto bem típico dela, minha sempre otimista amiga Zilah, refletindo o Imperativo fundamental da Vida, ergueu-lhe , em cálice de fino cristal, um quase contrafeito mas reverente, triunfante brinde !
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