terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A atração da Cidade: emblemátrico almoço com minha amiga urbana

 Minha amiga Zilah é a mais antiga de minhas amigas :  com ela compartilhei as cumplicidades dos primeiros amores, a prática talentosa da escrita poética e do desenho - Zilah indo além de mim e pintando lindamente -  e todas as coisas boas do universo urbano.

Fizemos juntas , ao longo de mais de quarenta anos, uma plêiade de atividades .  Desde as que mais me agradam -  cursos  de múltiplos assuntos e visitas a sortidos  Museus - até as que, sem ela, seriam as mais arredias à minha tendência maior reflexiva . Registrem-se, aqui,  dezenas de almoços em espaços requintados e idas incontáveis a Shoppings. Em sua companhia, estas últimas  incursões  ganhavam, para mim, um tipo de significado (aderente àqueles dos aspectos mais abstratos das realizações da Civilização)  que me surgiria  rarefeito sem o prazer de sua companhia. 

Pois esta dileta amiga sofreu, com dez dias de diferença, uma perda tão sofrida para ela  como a, para mim, de minha mãe : foi-se embora desta Esfera  o Walter, companheiro e marido devotado e bem-amado por mais de  três decênios... Compartilhamos, pois, agora, nossos lutos.

Passam-se os meses e a existência volta-nos a fazer seus apelos...

Almoçamos juntas em seu apartamento aqui pertinho do meu, com vista para as belezas da Lagoa e do Jardim Botânico. Tudo em volta transpirava os confortos da Cidade com a qual  ela tem tanta empatia: os móveis macios, a mesa bem posta, a comida gostosa de um restaurante sofisticado próximo e o vinho delicioso da adega que ela e o Walter cultivavam com capricho. 

Desabafamos tristezas recentes e nos animamos com lembranças e esperanças mais risonhas...


E , em um gesto bem típico dela, minha sempre otimista amiga Zilah, refletindo  o Imperativo fundamental da Vida, ergueu-lhe , em cálice de fino cristal, um quase contrafeito mas reverente,  triunfante  brinde ! 




Nenhum comentário:

Postar um comentário