Não pude subir ao sitio em janeiro deste ano . Choveu e choveu tanto que as estradas alagadas não deixavam passar senão carros com tração nas quatro rodas.
Quando consegui fazê-lo , no inicio de fevereiro, fiquei triste de ver como a água pluvial penetrara as paredes - semi-enterradas na terra - de minha sala de estar, que está tão bonita e acolhedora, fazendo mofar grande parte da pequena galeria que eu ali compusera !
Eu demorei decênios para pendurar todos os significativos quadrinhos de seres elementais nesta parede, junto com as gravuras de paisagens que haviam vindo com a casa . Não temi por eles, pois estas - despretenciosos recortes de papel, enquadrados em ripinhas singelas - nunca haviam demonstrado ter sido afetadas pela umidade inerente a este tipo de parede .
Mas que tristeza ! O anãozinho que voava em uma corola de flor, atrelado a uma borboleta, herança sorridente de meu casamento há muito finito, desbotara completamente !
Ele tinha uma história ancestral comovente. Pintado em papel de embrulho, durante a primeira guerra mundial por um avô de meu ex-marido Miguel, falava da coragem de continuar sonhando em tempos de penúria e desesperança.
Estou pensando em como manter o conjunto neste lugar - ao qual pertencem atemporalmente - mas investigando como preservar o que deles resta; pois foram todos, menos as gravurinhas modestas , um pouco afetados pelo mofo...
Mas já pensando em, quem sabe, vir eu mesma a pintar outra fada , em uma nova corola de flor, nas asas de uma diferente borboleta , para pendurar por perto, atestando o legado do avô corajoso, preservando seu impulso da inspiração e de reação criativa às adversidades !
Pois a Arte é capaz desta transmutação continua das formas, em prol de uma essência eterna incorruptivel, que nos alimente a alma !
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