terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O mofo no desenho centenário ...

 Não pude subir ao sitio em janeiro deste ano . Choveu e choveu tanto que as estradas alagadas não deixavam passar senão carros com tração nas quatro rodas. 

Quando consegui fazê-lo , no inicio de fevereiro, fiquei triste de ver como a água pluvial penetrara as paredes - semi-enterradas na terra - de minha sala de estar, que está tão bonita e acolhedora, fazendo mofar grande parte da pequena galeria que eu ali compusera  !           


Eu demorei decênios para pendurar todos os significativos quadrinhos de seres elementais nesta parede, junto com as gravuras de paisagens que haviam vindo com a casa . Não temi por eles, pois estas - despretenciosos  recortes de papel, enquadrados em ripinhas singelas - nunca  haviam demonstrado ter sido afetadas pela umidade  inerente a este tipo de parede .  

Mas que tristeza ! O anãozinho que voava em uma corola de flor, atrelado a uma borboleta, herança sorridente de meu casamento há muito finito, desbotara completamente ! 
  

Ele tinha uma história ancestral comovente. Pintado em papel de   embrulho, durante a primeira guerra mundial por um avô de meu ex-marido Miguel, falava da coragem de continuar sonhando em tempos de penúria e desesperança. 

Estou pensando em como manter o conjunto neste lugar - ao qual pertencem atemporalmente - mas investigando como preservar o que deles resta; pois  foram todos, menos as gravurinhas modestas , um pouco afetados pelo mofo... 


Mas já pensando em, quem sabe, vir eu mesma a pintar outra fada , em uma nova corola de flor, nas asas de uma diferente borboleta , para pendurar por perto, atestando o legado do avô corajoso, preservando seu impulso da inspiração e de reação criativa às adversidades !    

Pois a Arte é capaz desta transmutação continua das formas, em prol de uma essência eterna incorruptivel, que nos alimente a alma !  









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