Nosso querido Mestre Lydio Introcaso Bandeira de Melo foi para outra dimensão de Vida. Partiu desta existência no melhor estilo dos Grandes Magos . Havia voltado a lecionar, sim, naquele mesmo ateliê glorioso , no quarto andar de um edifício antigo, escadinha em caracol estreita e apertadinha, de degraus altos e magros. Esteve , mais uma vez , ensinando seus alunos , no sábado, dia 11/11. Adormeceu, em sua cama, em sua casa, para não mais acordar, na noite de 13 para 14 de novembro.
Não tive muita disposição para ir ao enterro, não gosto da valorização da despedida de um corpo, esvaziado de sua alma , deste tipo de cerimônia. Mas mudei toda a minha rotina de trabalho para estar presente à missa de 7º dia.
E foi um belo ritual de homenagem a sua Jornada plena e verdadeira por esta Terra .
O sermão do padre foi muito bonito . Falou de como ele bem soube distribuir os seus 'talentos' ; explicou como em linguagem bíblica correspondem a peças de ouro pesadas - cada um tem trinta quilos - que é necessário saber carregar e repartir, deixa-los frutificar, se expandir pelo mundo. Quanto mais talento se tem - a Bíblia chega a falar do Homem com quatro talentos - mais árdua e valiosa é sua tarefa.
Falou da magnifica produção artística de Bandeira, em grande parte também sacra e de como cada real artista tem em em si uma vocação de espiritualidade . De como a Arte e a Natureza , de per si, através da percepção e do fruir da Beleza, elevam o espirito , impregnam de significado a labuta tantas vezes penosa do dia-a-dia.
Enfatizou muito a função de Mestre, apaixonado, dedicado, amoroso mesmo de Lydio, que eu tive a oportunidade de pessoalmente constatar e tanto admirar, amadora despretensiosa e imperfeita que sou no desenho. De como esta atribuição - e seus resultados - é importante para o trajeto da Humanidade, para que mais e mais indivíduos ofereçam o melhor de si mesmos ao Outro . A Igreja estava cheia, com muitos de seus alunos presentes, inclusive Joana e Vitória - que foram minhas coleguinhas de turma - com seus rostinhos jovens banhados de emoção e de lágrimas.
E - apesar de atéia convicta que sou - comoveu-me a descrição poética que o padre fez de Lydio sendo recebido nas portas do céu por São Francisco de Assis, a quem ele tantas vezes retratou , inclusive em sua terra natal, na Itália.
Prossegue, Amado Mestre , na Vida que Jamais finda, sub especie eternitatis .