terça-feira, 28 de novembro de 2023

Até Sempre, Amado Mestre

 Nosso  querido Mestre Lydio Introcaso Bandeira de Melo foi para outra dimensão de Vida. Partiu desta existência no melhor estilo dos Grandes Magos . Havia voltado a lecionar, sim, naquele mesmo ateliê glorioso , no quarto andar de um edifício antigo, escadinha em caracol estreita e apertadinha, de degraus altos e magros. Esteve , mais uma vez , ensinando seus alunos , no sábado, dia 11/11. Adormeceu, em sua cama, em sua casa,  para não mais acordar, na noite de 13 para 14 de novembro.  

Não tive muita disposição para ir ao enterro, não gosto da valorização da despedida de um corpo, esvaziado de sua alma , deste tipo de cerimônia. Mas mudei toda a minha rotina de trabalho para estar presente à missa de 7º dia. 


E foi um belo ritual de homenagem a sua Jornada plena e verdadeira por esta Terra . 

O sermão do padre foi muito bonito . Falou de como ele bem soube distribuir os seus 'talentos' ; explicou como em linguagem bíblica correspondem  a peças de ouro pesadas - cada um tem trinta quilos - que é  necessário saber carregar e repartir, deixa-los frutificar, se expandir pelo mundo. Quanto mais talento se tem - a Bíblia chega a falar do Homem com quatro talentos - mais árdua e valiosa é sua tarefa.

 Falou da magnifica produção artística de Bandeira, em grande parte também  sacra e de como cada real  artista tem em em si uma vocação  de espiritualidade . De como a Arte e a Natureza , de per si, através da percepção e do fruir da Beleza, elevam o espirito , impregnam de significado a labuta tantas vezes penosa do dia-a-dia. 

Enfatizou muito a função de Mestre, apaixonado, dedicado, amoroso mesmo de Lydio, que eu tive a oportunidade de pessoalmente constatar e tanto admirar, amadora despretensiosa e imperfeita que sou no desenho. De como esta atribuição - e seus resultados -  é importante para o trajeto da Humanidade,  para que mais e mais indivíduos ofereçam o melhor de si mesmos ao Outro . A Igreja estava cheia, com muitos de seus alunos presentes, inclusive Joana e Vitória - que foram minhas coleguinhas de turma - com seus rostinhos jovens banhados de emoção e de lágrimas. 

E - apesar de atéia convicta que sou - comoveu-me  a descrição poética que o padre fez de Lydio sendo recebido nas portas do céu por São Francisco de Assis, a quem ele tantas vezes retratou , inclusive em sua terra natal, na Itália. 

Prossegue, Amado Mestre , na Vida que Jamais finda, sub especie eternitatis . 


 

 


domingo, 26 de novembro de 2023

Ambivalentes signos da transição de Moradas

 Para onde vou ? Onde é o meu lar de alma ?

Quero ir mais para o sitio , mas não pretendo abandonar de todo a cidade. Penso em ter aqui um 'pouso', um lugar meio de passagem . Preciso ainda aprofundar meu projeto 4F e aproveitar algumas coisas praticas - médicos, investimentos - da cidade . Também aqui devo redescobrir as coisas boas, que são poucas, mas existem (como seletas expressões da Arte e da Cultura ) .

Nestas dinâmicas, tenho de jogar fora muita coisa do passado, para deixar lugar par o novo . Muita coisa do reino das emoções, mas também coisas concretas, roupas e sapatos velhos , por exemplo .

Meu velhíssimo cabideiro - foi um dos primeiros presentes que o ex-marido Miguel me deu quando recém- casados - simplesmente quebrou um pé e está ancorado ambiguamente a muitas caixas de sapato, nem todas eles em uso, repleto de bolsas novas ainda em suas sacolas junto àquelas 'de ambígua  estimação ' . 

Recentemente, em termos também da revisão psicanalítica profunda que ando fazendo em mim mesma, doei todos os sapatos que haviam pertencido a minha mãe. Definitivamente, e especificamente em territórios  libidinais relevantes, não quero seguir os seus passos, nem aqueles de minha avó a quem minha mãe, por conta de um Édipo distorcido, copiou , pegada por pegada apática/sanguinolenta.  


Desde há algum tempo, o sofá da sala -  atrás do qual estão atulhados quadros e cobres da casa de mamãe, na espera de relocação em minhas paredes - está constantemente coberto por bolsas e sacolas que vão pro sitio.  cada vez levo mais coisas para minha estadia lá, papeis de desenho, roupas melhorzinhas, livros, registros de vacas, presentinhos para visitas. O forninho elétrico este mês faz parte da coleção; vai complementar a utilidade do  fogão velho da mamãe cujo forno pifou  logo que chegou no sitio. 


À esquerda :
 Por trás de pufes e por baixo de mesas do escritório está uma papelada e um monte de recordações de retratos etc  mais sofridos: memórias maternas e de família que precisam ser transformadas em material de inventário, destruídas e/ou arquivadas. Para mitigar o tom mais tristonho desta foto, em primeiro plano coloco minha pasta de material de aquarela . 

À direita, muitas pastas e caixas contendo registros e planejamentos em curso para o 4F , para o sitio, para múltiplos aspectos criativos de minha vida, inclusive cópias de contos e rascunhos de desenho. tudo a ser melhor classificado ! . Misturados com papelada de IR antiga e outros que tais, assim como históricos e receitas de Morgana.

 
Quisera eu que meus projetos de Arrumação de Tralhas e Relíquias , de transicão de Moradas, seguissem o ritmo de meu  desejo, que em estado mais evidente  por estes dias . E não me furto de, olhando o pequeno calendário amazônico ainda a meu lado, aqui na mesa de meu computador  - quão significativo de uma maravilhosa viagem (há tanto tempo desejada!) ele foi para mim este ano ! - , acreditar que, no próximo mês de Novembro,  em 2024, boa parte desta Revisão em Objetos dos Rumos de minha vida estará em grande parte refeita !!! E a gravura que representa o mês XI neste calendário é tão singularmente  expressiva de uma Potência da Natureza e suas decodificações pela Arte e Cultura neste sentido  !  


A onça-pintada fala de meu bravo signo de Leão, e o araçari miudinho me  lembra Vicente, o corvo da arca de Noé , que , contra todas as probabilidades, lançou-se ao  Desconhecido para criar um novo Destino para si mesmo. 



quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A saga da raça Jersey : excelência e exploração

Quando decidi me filiar à associação  de criadores Jersey, imaginava um futuro mais ameno para o meu pequeno Copérnico.  O inspetor da raça jersey  que foi fazer a verificação da fidedignidade da raça do bezerrinho nesta minha subida mais recente - ótima pessoa com que tenho tirado muitas dúvidas por celular , desde que planejava comprar a Amanda - ,  tirou-me qualquer ilusão a respeito. 

O inspetor Arlei veio de Minas, ficou hospedado por uma noite lá em casa  - logo que chegou vi sua estreita filiação com o agronegócio e a rede de inseminação artificial bovina através de seu carro - e me explicou muitas coisas.

 Inclusive como Copérnico não pode ser um reprodutor jersey só em função de sua origem pura. O seu sêmen teria que ser avaliado se era devidamente precioso (segundo critérios comerciais  da tal companhia que vende semen de alta qualidade), através de exame genético específico , a ser feito até ele ter um ano de idade (caro, por volta de R$1.500,00) . Se considerado "good enough" a única forma de ganhar algum dinheiro com seu sêmen, 'devidamente legitimado " pela tal companhia, seria uma associação com a dita cuja, para cujas instalações , Copérnico seria levado em caráter definitivo. Lá, seria alojado em uma confortável baia - até com pequeno pasto privado -  e induzido a fazer sexo o tempo todo com uma vaca , por cuja vagina artificial (mas bem parecida com a real, macia e quentinha) seu semen seria desviado e coletado. Continuamente. Sêmen - no caso - é dinheiro. 

Além desta existência super-restrita, ele teria apenas uns cinco anos de vida, dado o sobre esforço de transar sem parar, quando é uma raça longeva , que pode durar mais de vinte anos. E não há outro jeito de aproveitar o sêmen 'oficialmente'. Fico tiririca e me disponho a a desafiar o sistema, deixando , no futuro , o Copérnico transar livremente com vaquinhas várias. O Arlei me adverte  de que ele  pode pegar doenças e ameaça de ele vira um touro brabo , achando melhor extirpar seus chifrinhos desde novinho !!!  

Arlei ainda declarou que nenhuma de minhas vaquinhas podia ser classificada oficialmente como sequer PA (= pura por aparência ). São misturadinhas demais, minhas caipirinhas Mococa e Mocoquinha. Se a Mococa - recentemente inseminada com semen sexado jersey legítimo - tiver uma menina , esta pode ser considerada PC (= pura por cruza). Os meninos estão fora desta classificação, só os PO (puros de origem de pai e mãe)  contam . 

Mas Arlei foi uma pessoa legal, tendo uma certa delicada paciência para com meu critério 'humanístico ' de cuidar dos meus bichos por outro viés. Até me deu um adesivo de jersey e jersolanda de Minas, que colei em meu carro, só de charme. 

Tem outros inconvenientes de se ter vaca de raça. Para dar mais leite come mais, ração cara. E mesmo que queiramos menos leite, não podemos prescindir da ração, ela foi tão programada geneticamente que emagrece se não tiver este extra,  para tentar dar mais leite para o bezerro. 

Dr. Fabiano, que foi lá no dia seguinte, concordou que a Amanda estava mesmo meio magrinha , que
era melhor adiar um pouquinho sua inseminação .

Enquanto isto, ignorante de sua condição de 'vira-lata ' bovino - sim , a raça evidente de meio-holandês de Malhadinho não o libera desta " pecha" - , ele e o amiguinho Copérnico (também salvo do gongo de ter seus chifrinhos extraídos pelo nosso veterinário ) continuam a brincar pelo pasto. Moises secunda o dr. Fabiano em achar que não vai ter problema nenhum eles crescerem juntos como dois tourinhos (não pretendo castrar nenhum dos dois), não vão brigar nem nada.


Uma notinha simpática em meio a toda esta parafernália genetificante : no estábulo, Moises coloca ramos de eucalipto para afastar os morcegos. Espero que funcione, porque é bem natureba e até um pouco perfumado !!!



terça-feira, 14 de novembro de 2023

Intempéries e Beleza no Campo, ao invés daquelas da Cidade.

 Ao relatar fragmentos da minha subida ao sitio de outubro, deixo de lado as mil atropeladas e sempre 'pra ontem' confusões da cidade que me têm assoberbado nas últimas semanas .  Em especial,  as ligadas ao desempenho correto de minhas funções de síndica , depois que um galho de arvore de árvore do nosso jardim caiu sobre um carro na rua, em dia de temporal (donde o Seguro do prédio que fizemos se recusa a pagar o conserto ). O proprietário, de fala doce, tenta nos empurrar um conserto de lataria caréssimo (quer substituir peças caras ao invés de fazer lanternagem), quando ele mesmo deixou o carro na rua, sob árvores, em certo risco. E no prédio do apartamento que foi de minha mãe , um profissional de gás, que fez um serviço bom aqui, está criando muitos problemas na consecução da obra lá . A sindica deste prédio , pessoa de temperamento muito diverso do meu , reagiu de tal forma que estou tendo de intermediar suas falas, para que seja feito o conserto, sem o qual não posso alugar o apartamento.    

Por que começo minha postagem com este relato ? Para me lembrar de que devo tomar decisões difíceis -  como transferir para pessoa com mais competência a sindicatura e deixar o manejo do aluguel do apartamento de Laranjeiras na mão de um corretor mais neutro do que uma síndica  - para me dedicar mais a um tipo de existência e tarefas moldadas em um ritmo e uma intenção diferentes do urbano que venho experimentando.  Ou seja, em maior  consonância com minha forma de ser e sentir a minha existência e o que  quero dela  fazer em termos de um projeto adulto de Qualidade . 

 Neste sentido , a vida na roça segue um rumo que convive com resultados similares das intempéries das mudanças de estação - ou seja árvores tombadas pela força dos vendavais  - sem que outrem senão nós próprios tenhamos que arcar com os prejuízos. Desta vez, pela 2a , desde que tenho Internet on-line lá - um fio cortado pour um galho caído me deixou sem Internet alguns dias . E também  fiquei sem luz uns tantos outros. Mas estes inconvenientes - que só a mim  afetaram -  são tão amplamente compensados peal Beleza e Paz que desfruto no Campo ! 

É a estação - de novo ! - de nossos lindos jasmins do Cabo !!!   




Algumas frutas seguem seu ritmo de brotação , como as uvas da velha parreira

Mas , com  tempo endoidecido que tem feito , outras antecipam sua presença, como as hortências .
 
Aguardam-se os tempos necessários para os plantios com chuvas fortes, como para o varal de maracujás renovado ou as mudas de árvores presente do dr. Fabiano . 



Vamos fazendo pequenas obrinhas, em compasso mais de acordo com as necessidades impostas pelo ambiente e por nosso próprios planejamentos. 

Assim , como tombou um pedaço da antiga casa das tartarugas aquáticas , uma primeira piscina que eu havia feito há tanto tempo, antes da atual, decidimos mudar as moradoras para um tanquinho menor, a ser reformado durante o mês de novembro :



Futuramente , o espaço desocupado desta ex-piscina será aproveitado para uma sauna, de que tanto gosto ! 

Acontecimentos pequenos , como uma borboleta velhinha , que teima em não voar de volta para a liberdade, quando eu a resgato das águas da piscina onde parecia ter caído , adquirem uma importância simbólica transcendental ;  como se se tratasse de delicada recusa a continuar tentando sobreviver sem poder voar mais, uma quietude gentil face ao final de um ciclo vital adequado.  


E , de dentro da piscina, eu filmo as mudanças de cores das nuvens pelo céu , hesitando em seus presságios de dia  azul ou chuvarada, que mesclam em seus reflexos  o ar e a água - e dentro desta fusão, eu flutuo e como que me dissolvo na Natureza ...