quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A saga da raça Jersey : excelência e exploração

Quando decidi me filiar à associação  de criadores Jersey, imaginava um futuro mais ameno para o meu pequeno Copérnico.  O inspetor da raça jersey  que foi fazer a verificação da fidedignidade da raça do bezerrinho nesta minha subida mais recente - ótima pessoa com que tenho tirado muitas dúvidas por celular , desde que planejava comprar a Amanda - ,  tirou-me qualquer ilusão a respeito. 

O inspetor Arlei veio de Minas, ficou hospedado por uma noite lá em casa  - logo que chegou vi sua estreita filiação com o agronegócio e a rede de inseminação artificial bovina através de seu carro - e me explicou muitas coisas.

 Inclusive como Copérnico não pode ser um reprodutor jersey só em função de sua origem pura. O seu sêmen teria que ser avaliado se era devidamente precioso (segundo critérios comerciais  da tal companhia que vende semen de alta qualidade), através de exame genético específico , a ser feito até ele ter um ano de idade (caro, por volta de R$1.500,00) . Se considerado "good enough" a única forma de ganhar algum dinheiro com seu sêmen, 'devidamente legitimado " pela tal companhia, seria uma associação com a dita cuja, para cujas instalações , Copérnico seria levado em caráter definitivo. Lá, seria alojado em uma confortável baia - até com pequeno pasto privado -  e induzido a fazer sexo o tempo todo com uma vaca , por cuja vagina artificial (mas bem parecida com a real, macia e quentinha) seu semen seria desviado e coletado. Continuamente. Sêmen - no caso - é dinheiro. 

Além desta existência super-restrita, ele teria apenas uns cinco anos de vida, dado o sobre esforço de transar sem parar, quando é uma raça longeva , que pode durar mais de vinte anos. E não há outro jeito de aproveitar o sêmen 'oficialmente'. Fico tiririca e me disponho a a desafiar o sistema, deixando , no futuro , o Copérnico transar livremente com vaquinhas várias. O Arlei me adverte  de que ele  pode pegar doenças e ameaça de ele vira um touro brabo , achando melhor extirpar seus chifrinhos desde novinho !!!  

Arlei ainda declarou que nenhuma de minhas vaquinhas podia ser classificada oficialmente como sequer PA (= pura por aparência ). São misturadinhas demais, minhas caipirinhas Mococa e Mocoquinha. Se a Mococa - recentemente inseminada com semen sexado jersey legítimo - tiver uma menina , esta pode ser considerada PC (= pura por cruza). Os meninos estão fora desta classificação, só os PO (puros de origem de pai e mãe)  contam . 

Mas Arlei foi uma pessoa legal, tendo uma certa delicada paciência para com meu critério 'humanístico ' de cuidar dos meus bichos por outro viés. Até me deu um adesivo de jersey e jersolanda de Minas, que colei em meu carro, só de charme. 

Tem outros inconvenientes de se ter vaca de raça. Para dar mais leite come mais, ração cara. E mesmo que queiramos menos leite, não podemos prescindir da ração, ela foi tão programada geneticamente que emagrece se não tiver este extra,  para tentar dar mais leite para o bezerro. 

Dr. Fabiano, que foi lá no dia seguinte, concordou que a Amanda estava mesmo meio magrinha , que
era melhor adiar um pouquinho sua inseminação .

Enquanto isto, ignorante de sua condição de 'vira-lata ' bovino - sim , a raça evidente de meio-holandês de Malhadinho não o libera desta " pecha" - , ele e o amiguinho Copérnico (também salvo do gongo de ter seus chifrinhos extraídos pelo nosso veterinário ) continuam a brincar pelo pasto. Moises secunda o dr. Fabiano em achar que não vai ter problema nenhum eles crescerem juntos como dois tourinhos (não pretendo castrar nenhum dos dois), não vão brigar nem nada.


Uma notinha simpática em meio a toda esta parafernália genetificante : no estábulo, Moises coloca ramos de eucalipto para afastar os morcegos. Espero que funcione, porque é bem natureba e até um pouco perfumado !!!



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