sábado, 30 de abril de 2022

Flores em trânsito

 Ainda é sofrido para mim detalhar as mudanças da casa da mamãe para minha casa na Cidade (mudança pequena) e para minha casa na Serra (mudança grande). 

Esta última foi extensa e cansativa. No dia do transporte, embora já todos os itens - de eletrodomésticos a miudezas sentimentais -  já estivessem embalados e as plantas estrategicamente posicionadas , só para ajeitar tudo na caminhonete demorou-se de sete e meia da manhã até uma e meia da tarde . O veículo, muito cheio, subiu  a serra devagar ; chegamos no sítio quase às seis da tarde. Isto depois de meu carrinho citadino, que orientava a caminhonete, oscilar enlouquecidamente na lama que cobria a estrada de terra dada a chuvarada recente. Até os rapazes descarregarem tudo, em três diferentes locais, e jantarem, eram já  nove horas da noite, quando pegaram a estrada de volta. 

Os eletrodomésticos grandes e os móveis  da mamãe alojaram-se bem nos espaços para tal planejados. mas embora eu tenha trabalhado sem parar (ajudada por Elisangela) no domingo e na segunda-feira e as tenha catalogado, ainda nem abri as  caixas  com tudo que há de menor e mais delicado do lar materno desfeito.  

Tirei muitas fotos, mas quero postar só duas, hoje. Transições simbólicas radicais precisam de tempo para serem bem incorporadas em nossa alma. Em forma de flores, na postagem de hoje. 

No perfeitamente bem arranjado apartamento da minha mãe, ela havia preparado, próximo a uma janela para bem receberem luz do sol,  um espaço forrado de cimento e pedras (para que a água das regas não vazasse até o teto do vizinho de baixo ) , onde suas plantas vicejavam alegres. Mamãe preferia folhagens robustas, que ostentassem suas flores como quase casuais enfeites vegetais.  Algumas delas estavam floridas , neste final de verão,  como a da foto ao ao lado. 

O apartamento da mamãe, no sétimo andar, apesar de voltado para a movimentada rua das Laranjeiras,  tem uma bela vista para o verde, do Palácio do prefeito, em meio ao parque Guinle . 

Da janela tipo cachimbo da sala aonde ficavam  várias plantas - embora as houvesse em todos os cômodos da  casa - ainda se vislumbram  os prédios vizinhos ao jardim fronteiriço - ao contrário  dos quartos, que se abrem  diretamente   para o verde. 

Mas escolhi este ângulo para a foto, justamente para enfatizar o aspecto urbano da antiga residência das plantas da mamãe. 

Os dois pés desta particular espécie folhuda, que já se espremiam em vasos sempre pequenos para seu contínuo  crescimento, agora vão ser plantados na terra, ladeando  um dos pés de antúrio do sítio ...



Alguns  detalhes charmosos da casa de minha mãe me talham o coração quando os revejo. Como o jeito gracioso que ela achou para dar um toque especial a um espaço doméstico a princípio muito neutro, como um tanque de lavar roupa em uma área contigua à cozinha . Um espelho de moldura branca já um pouco desgastada e jibóias enroscando-se a seu entorno, evidenciando um amoroso arranjo de jardineira de dedo verde, o transformaram em um despretensioso  recanto  aprazível !

Uma das duas jibóias deixei de presente para a Fátima, a dedicada guardiã dos cuidados para com minha mãe velhinha. A outra, a de caules mais compridos,  está no sitio, no alto de um dos pés de ferro que a mamãe prezava tanto, sobre outras plantas também vindas de sua casa. 


Como minha mãe, sou uma pessoas que preza lembranças e valoriza a carga afetiva de cada uma delas. Donde, permitam-me parar por aqui hoje ... 




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