segunda-feira, 23 de maio de 2022

Compondo acordes de múltiplas memórias

 A transposição da maioria dos móveis e objetos de casa de minha mãe para o sitio foi acompanhada  daquela de muitos guardados em  minha própria casa, há decênios, semi escondidos em armários de guardados  empoeirados.  Dentre eles,  alguns remetem a resquícios de meu há tantos anos findo casamento. Imagine-se a carga afetiva de harmonizar todos estes símbolos , respeitando e realçando as suas características estéticas. 

Um destes ajustes mais sutis foi no conjunto de quadros que reuni por sobre o novo /antigo sofá da sala do sítio . Havia já lá dois muito simplesinhos, com cenas de natureza alpina, gravuras de papel enquadrado em tirinhas de madeira, que vieram com o sitio e que, não obstante sua fragilidade, tem-se mantido intactos nestes trinta anos.  Estão nas extremidades superiores do arranjo, a floresta escura e a colina de grama repousando por sobre o céu azul...


Os dois quadrinhos das extremidades de baixo representando gnomos se divertindo e vêm da história ancestral da família polonesa de meu ex-marido. Foram desenhados por um tio avô excêntrico e há algo de vagamente sinistro no contraste dos rostos dos minúsculos velhos folgazões com as paragens sombrias e/ou estranhas em que eles se deslocam. Recordam-me as imensidões desconhecidas das estepes eslavas e de seus pinheiros selvagens, cultura mágica que tão pouco nos é vizinha ...

Já os dois quadrinhos do meio, no alto e embaixo,  eu os havia trazido da Inglaterra, quase quarenta  anos atrás  e eles viviam escorregando para baixo de um sofá, mal equilibrados em uma mesinha lateral encostada à  parede, escondidos por almofadas por ali  extraviadas, em meu escritório do Rio . São também seres elementais: no de cima,  fadas quase  infinitesimais  quais poeira, flutuam no Ar rarefeito refletido e confundido com as Águas de um lago; no de baixo,  por sob/entre as raízes  de uma velha arvore , outros elementais pertencentes à Terra agitam-se, ninfas ambíguas, anões de cabeças enormes e pernas fininhas carregando crianças (humanas ou também fantásticas ?)  ,  


Esta parede  é um dos elementos mais antigos da casa do sitio, era a parede do  paiol original que sustentava a estrutura da construção de então, quase  uma meia- água , separando-a do solo do terreno desnivelado. Tanto que se uma parte da parede fica sempre úmida, infiltrada pelo barro macio de parte do solo adjacente, logo a seu lado outra parte da mesma parede é pura rocha. 


Para conseguir compor as memórias acima, foi preciso uma potente furadeira  e o jeitinho do Maicol para conseguir escavar  um buraco para o prego no lugar certo. 


Outro recôncavo de memórias comovente , foi a redisposição dos quadrinhos que haviam enfeitado meu quarto de criança e que  mamãe sempre lamentava ' terem-se extraviado' no apartamento que agora habitava  Na verdade, nós os encontramos, ao lhe desmanchar a casa,  em uma estante alta no quarto de empregada, entre guardados mofados  e restos de materiais de construção. 



Ei-los à luz do dia e do Mundo das Lembranças, de novo !   

Mas se toda esta revisão tem um lado de  resgate e e encanto, também têm provocam diferentes tipos  de saudades e nostalgias que cortam meu coração !!! 

Deixemo-lo repousar por hoje ...





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