domingo, 26 de junho de 2022

As frutas cítricas do sitio no friozinho da cidade neste ano

A cada estação do  ano tenho uma historieta a contar das frutas que vêm do sítio para cidade. Sempre produzo muitíssimo mais do que preciso para meu consumo e o dos amigos.  Não me interessa comercializá-las, tenho uma repulsa endógena a tudo que  lembre o capitalismo. Não me incomodo que meu caseiro provavelmente venda ou oferte  o excesso, vejo este gesto  como escambo  indireto não especificado como tal, pois espero que ele, em troca, contribua com produtos para os animais que o dinheiro que dou para isto não cobre  completamente. 

O que me importa nesta postagem de hoje é como as frutinhas cítricas - a primeira leva da safra delas que trouxe no inicio deste mês que está findando -  têm durado agora que faz um friozinho discreto  no Rio. Mais do que eu tenho lembranças em todo este muito tempo em que as translado de lá para cá. 

Por exemplo, as mexericas nativas - lá do alto do pasto - que são muito delicadas e sofrem com o transporte - pela primeira vez , ao que eu me lembre, chegaram quase todas intactas. Pude arrumar uma linda mesa só com elas .


Além do saco contendo minhas preciosas mexericas (que não vendem  em feira),  o carro veio repleto de uma quantidade grande de todas as espécies de cítricas -  Pokans, tangerinas, limas, seletas, limões doces, Bahia ( apenas  as primeiras) e limões galegos. Foram  sendo aos poucos dispostos nas cestas pela cozinha que tanto tempo atrás, um outro caseiro  havia feito de uma fibra também nativa. 

Como eu fiquei com carência de cestas para acolher todas as frutas, segui o conselho de minha empregada Fátima , que é oriunda da roça nordestina e coloquei abóboras e bananas no chão de ladrilho da cozinha - parece, inclusive, que duram mais quando em contato com esta superfície fria. 


Precisei estoca-las , uma semana depois, na geladeira , que ficou repleta, com lugar quase nenhum para mais nada !


E  uma vez minhas mexericas remanescentes também recolhidas ao aparelho elétrico, as outras espécies continuam na mesa de minha casa na cidade...

... lembrança constante e nostálgica daquela da serra....





terça-feira, 21 de junho de 2022

Translado do gentil hábito de leitura

 Cada vez me sinto mais em casa no meu sitio. Inclusive é como se hábitos que fui perdendo na cidade - como o de ler livros de ficção - substituído pelo comodismo de ver filmes e séries de televisão - mantivessem-se vivos lá....

Eu atribuo a prática deste prazer à atmosfera tranquila e verdejante a meu redor, à ausência proposital dos artefatos eletrônicos, ao balanço da rede na varanda ao lado do bebedouro de um  beija-flor peregrino.  E . em especial, ás noites,   à cama quentinha no quarto de paredes de madeira cheia de frestas, por entre se insinuam os sons da sinfonia dos grilos, rãs e outros bichos noturnos  que embalam minha deliberada insônia . Pois adio o sono, para aproveitar mais tais momentos de comunhão profunda com a Natureza e bem escritas ideias ....

Na cidade, sufocada entre quatro paredes, tensões constantes estreitando ainda mais os horizontes íntimos,  apelo para a tela grande na parede em frente à cama (embora eu tenha uma árvore meio que encobrindo a abertura da  janela lateral, ela não é o bastante),  para ter acesso a  paisagens e histórias que ativem minha imaginação , que fica embotada por aqui. 

No fim de semana passado , choveu docemente  no Rio e , em meio a total silêncio abençoado, voltei a ler , durante toda uma tarde preguiçosa, um dos livros em inglês, surrupiados da recente minicoleção que levei pro sítio (ver postagem anterior)  . 


Ao lado de um suco de maracujá - também  trazido do sitio - e do celular desligado, esquecido por ali, conversei com Forster de muito longe e muito perto, no inicio do século passado e em uma Índia colonial que nem existe mais como entidade política. Mas as consistentes e libertárias ideias que o livro me narra de forma tão poética, excelente literatura, são eternas ! 



 

terça-feira, 14 de junho de 2022

Da Inglaterra ao Laranjal

  Livros, histórias, ideias voam longe, voam alto ...

Até mesmo da Inglaterra,  terra-natal de uma antiga moradora  do JB  - que para estava para lá voltado, mês passada -  e que  que estava doando  todos os seus livros, eles vêm. No caso, foram  para meu sítio situado exatamente entre as localidades de Amparo, São José do Ribeirão e  Laranjal,  em Bom Jardim ...

A gentil senhora me ajudou a selecionar uma pequena amostra de recente boa literatura de ficção inglesa e norte- americana. 

Fez parte de minhas recentes arrumações com o marceneiro no sitio  fixar uma prateleira  -  que antes abrigava livros da mamãe na sala - no quarto de hóspedes ,  em uma parede em cujas dimensões ela se acoplou perfeitamente.  A minha nova coleção in English' coube certinho  ali  . Até o mesmo o segurador de livros de elefantes que lá exercia seu labor , o repetiu no novo espaço ...



Não resisti a enviar a gentil viajante tais fotos, inclusive a da vista para o jabuticabal do nosso paiolzinho  , de onde os livros , que vieram de tão longe, vislumbram um verde acolhedor.   



Até acrescentei o detalhe da estante-mesinha de cabeceira da cama em frente , onde livrinhos também da British cultura habitam, bem integrados à atmosfera roceira, e recebem, hospitaleiros , os novos habitantes  . 

Ela agradeceu gentilmente a lembrança e eu fiquei feliz, de , pondo-me no seu lugar, imaginar que meus livros queridos, dos quais precisaria desfazer-me, continuariam a ser  amados e bem tratados... 






quinta-feira, 9 de junho de 2022

Fragmentos de beleza em meio às exigências das mudanças pra roça

 Todo mundo sabe que ter um sitio dá muito trabalho . Em especial quando é um sitio na roça, que quer produzir 'um pouquinho de tudo', só pra suprir algumas necessidades alimentares de sobrevivência, para o proprietário na cidade e para o caseiro e sua família, em justas medidas. Se formos  uma alma sensível às belezas da Natureza , em suas expressões mais silvestres e naquelas mais cultivadas, outras dimensões de alegrias e preocupações , de ordem estética e sentimental, são acrescentadas àquele lado mais pragmático   

O sitio situa-se em  um espaço intermediário entre a fazenda - que é administrada por gerentes e/ou capatazes e pretende gerar lucro (por mais democraticamente repartido que este seja) -  e a casa de campo, que visa - mantendo presente certas demandas por conforto e comunicação dos espaços urbanos -  só o  fruir do  prazer do ambiente campestre. Pois o sitio é um microcosmo em si mesmo, entrelaçando o melhor e o mais desafiante destes dois mundos. 

Nesta postagem, vou apresentar fragmentos de algumas destas experiências -  omitindo as fotos de várias relevantes , conforme também tentarei descrever  - colhidas durante minha mais recente ida ao sitio, no fim de semana passado, estendido até a última terça-feira .  

Foi mais uma subida corrida, em meio a muita coisa a fazer na cidade,  e preocupada em continuar a arrumação da casa, implicando , inclusive , em receber marceneiro para consertar pequenos defeitos nos móveis mais velhos já existentes ou trazidos recentemente do Rio, assim como trazer um móvel novo, dentro do meu amplo propósito de mesclar memórias significativas , Cidade e Campo nas suas Fronteiras (que é o nome do meu sítio) , Passados (reminiscências ) e Futuro (projetos) no presente .

Sempre que chego, cansada da viagem de quatro horas, as flores do mês me saúdam, em volta de casa.

Neste mês, foram as dos vasos pendurados pela varanda, não lembro seu nome. E na janela do meu quarto , uma flor que parece um arbusto de margaridas debruçava-se sobre a garagem ...


E é sempre gostoso encontrar meus gatinhos do campo ; com o frio que está fazendo, lá (chegou a 5º em uma madrugada)  eles estavam esquentando os muitos cobertores, aguardando minha chegada.  

  

Caramelo, como um pequeno Buda, deita em meu colo quando vou dormir e fica ronronando e fechando seu olhinhos, dando beijinhos felinos. Mas , em geral, só na primeira noite, que é para matar saudades...

Não pude me deter nas cosias que mais gosto de fazer por lá, sequer passear na floresta. A maior parte do tempo foi gasta com continuações de arrumações, como tirar de caixas as muitas almofadas que trouxe da  casa de mamãe (apenas para não mofarem , nem tive tempo ainda de arrumá-las ).


E o  marceneiro Seu Vinicius - auxiliado pelo eficiente Alex - trocou de dia várias vezes, para entregar a cristaleira e fazer os consertinhos previstos nos móveis antigos  ; num das tentativas um vidro quebrou e teve de ser reposto ..

Afinal, o móvel foi entregue e os reparos foram feitos. Mas como foi no dia em que eu precisava voltar pro Rio, apenas coloquei algumas caixas dentro - para balancear a instável estrutura - e não pude ainda deixar a cristaleira 'preenchida' . Mas acho que ficou bem localizada e harmônica com o ambiente e a amplidão da passagem entre as duas salas que sempre me agradou muito


Nos intervalinhos ainda fui verificar o estado dos pastos - Moisés dividiu bem a área total e agora uma delas já foi completamente utilizada para alimentar nossas seis cabecinhas; elas serão transferidas para a área adjacente enquanto o capim cresce no pasto de novo  ... como tudo acontece rápido na Natureza! ...


Tivemos ainda  a invasão noturna de um gambá (que lamentavelmente falhei em documentar por imagens) na cozinha - Moisés o segurou pelo rabinho e devolveu ao mato ; e a abundante safra de frutas  cítricas de que trato em outra postagem.  

 
 No final de cada atarefado dia eu ia passear no meu jardim na serra.... pelas veredas que rodeiam meu antiquíssimo pé de camélias vermelhas, junto ao portão , que nos velhos tempos assinalava que os proprietários daquela terra eram abolicionistas...  

Em sequência, a bela folhagem  que morre após o brotar esfuziante de seu pendão. as flores da ameixeira, uma das flores rosadas que as abelhas adoram de uma  árvore trazida da floresta e que havia morrido e que foi replantada há poucos anos no jardim...



Antes de eu ir embora na 3ª feira, registro um bonito efeito do sol, criando sombras alongadas e elegantes na mesinha do café da manhã frugal - observe-se a nova cafeteira com flor azul que o Moisés me deu de presente - e , depois, tive  de - coração cada vez mais partido neste momento -  pegar a estrada de volta ao Rio...