Na postagem de Sete de Setembro, falou-se da inauguração,
por aqueles dias, da OiR e do passeio prometido pelos organizadores da Mostra por
algumas de suas obras, que temíamos constituir-se num ‘Oip’! = Officially Indigenous Programme.
Interessou-nos, particularmente, a extensão da proposta, abrangendo um
perímetro variado e inusual da cidade.
A procura foi grande. Inscrevemo-nos no dia
seguinte e só conseguimos vaga para o último fim da semana, quase no final da
exposição (que termina hoje dia 2 de novembro), que dado o seu caráter de arte
pública é essencialmente efêmera. E ficamos felizes de informar que tudo correu
às mil maravilhas, desde o lembrete pelos organizadores de nossa inscrição na
véspera do dia agendado como em toda a parte operacional do passeio.
O ônibus é muito confortável, com ar condicionado
potente, toalete a bordo e água gelada fartamente disponível.
Relembrando, segundo a propaganda (muito pouca, de acordo
com as exigências da lei Rouanet que regeu o evento):
Há um ano, os
ingleses Andy Goldsworthy e Brian Eno, o espanhol Jaume Plensa, o
norte-americano Robert Morris, o japonês Ryoji Ikeda e o paulista Henrique
Oliveira foram convidados a intervir artisticamente em paisagens do Rio. A ideia
do curador Marcello Dantas era dar novo olhar, uma perspectiva estrangeira, a
lugares por onde cariocas passam todos os dias. "A imagem da cidade nos
foi em grande parte passada pelos estrangeiros que passaram aqui", ele
lembra.
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Plensa e a esguia face de sua Awilda |
O resultado foi a mostra internacional de arte pública "OIR - Outras Ideias para o Rio", com instalações e esculturas de quatro destes artistas em espaços públicos.
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Show de Eno na Lapa |
As obras de outros dois, Ryoji Ikeda e Brian Eno constaram de intervenções, a do primeiro na Praia do Diabo, em Ipanema, com projeções na areia e no mar, e a do segundo nos Arcos da Lapa, com luzes e música.
Nosso passeio começou na churrascaria Fogo de Chão com a coordenadora cultural do passeio lembrando o título recente dado pela UNESCO ao Rio de patrimônio de paisagem cultural, ou seja, aquela modificada pela intervenção do homem.
O primeiro dos paineis transparentes em acrílico que explica cada peça é adornado pelas cores pasteis do céu, do mar, das sonolentas margens da enseada de Botafogo.
O ônibus trafegou devagar ao longo da praia, contornando a alva cabeça de mulher de Jaume Plensa emergindo das águas, exibindo, a depender do ângulo de observação, cartões postais da Maravilhosa...
A paisagem humana dos
banhistas e esportistas acrescenta movimentação a esta sucessão de ‘slides’...
Na Cinelândia, Robert
Morris construiu um labirinto de vidro; o painel é encimado pela fachada
restaurada do Municipal. Podia ser mais chique?
Em volta, edificações antigas e
até foi planejada a eventual subida em suas largas escadas para apreciar de outro ângulo o
labirinto, cuja forma é triangular.
No Cais do Porto, em meio a grafites e calor, a entrada estreita para a apreciação do trabalho de Andy Goldsworthy.
Valorizando a renovação da área, dentro de um prédio antigo – que já foi,
inclusive, fábrica de sabão – , o frágil
Domo de Argila foi construído para durar pouco, na melhor
tradição da arte conceitual.
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No local funciona Centro cultural em processo de expansão |
Com efeito, o domo em si já havia ruído quando a exposição se inaugurou. Assim, nosso contato é já com as entranhas desta oca submersa na estrutura quadrada da fábrica.
E com o frescor penetrante da sua superfície 'craquelada'
Enquanto rumamos em
direção à distante Madureira – e um dos méritos da mostra foi incluir a Zona
Oeste no itinerário – vídeos sobre o processo da inspiração e da manufatura das
obras são exibidos na tela do ônibus.
Um dos mais
interessantes nos pareceu o trabalho de Goldsworthy,
uma vez que o artista quis ‘reverter o processo’ que teria levado à construção
de tijolos como os da fábrica onde o domo se hospedaria. Pesquisou a origem da
argila que os compôs e a ela acrescentou feno e cabelos humanos, recolhidos de cabeleireiros
do Rio todo para dar certa consistência – simbólica também – à sua argamassa.
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Goldsworthy |
Para ver o vídeo de
Goldsworthy na íntegra – aproveitando para uma olhada na repercussão
internacional do evento – acessar:
O ônibus nos conduz, enquanto isto, suavemente, às entranhas da Maravilhosa...
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As casas que chamamos lar, arte popular no mural e no endereço da oficina e mamões no terreno baldio |
No Parque de Madureira,
recém-inaugurado pela Prefeitura onde havia uma favela, numa área antes
ignorada pelo circuito tradicional de museus, o painel da amostra, qual lembrança da eletricidade estática no fulgor tropical do quase-verão.
Henrique Oliveira instalou sua
Cascasa, um túnel curvilíneo feito de restos de madeira, coletados também por
toda a cidade.
A intenção declarada pelo autor no vídeo foi a de uma espécie de recuperação poética das casas feitas de sobras da antiga favela...
Por dentro, um efeito de casca de caramujo e o alívio da canícula.
Planeja-se que a mostra ocorra também em 2014 e 2016,
quando a cidade estará repleta de estrangeiros, numa interessante proposta de
cruzamento dos olhares domésticos e forasteiros.
Na volta, Awilda, nossa bela adormecida, de nós se despede...